Letícia Vicente, de apenas 17 anos, é uma das representantes da região nordeste no seleto grupo de candidatos que alcançaram a nota mil na redação do Enem 2023. A jovem de Mossoró (RN) escreveu uma dissertação considerada perfeita pela banca do exame – que na última edição cobrou o tema “Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil“. Atingir a nota mil já é um feito para poucos, mas a história de Letícia ganha contornos ainda mais impressionantes. A jovem acaba de concluir o terceiro ano do Ensino Médio, e conciliou os estudos com a dança – talento que lhe garantiu uma bolsa integral de estudos em uma escola particular.
Ao GUIA DO ESTUDANTE, a estudante, que sonha agora com uma vaga no curso de Medicina na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), contou como foi a sua preparação para o exame e o que escreveu em seu texto.
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Dividia a rotina intensa com a dança
Letícia não economiza elogios ao afirmar que o treinamento intenso de seu colégio lhe ajudou a alcançar tal façanha. Bolsista integral no Diocesano de Santa Luzia, que usa o sistema do SAS Plataforma de Educação, a futura médica conta que a rotina puxada do terceiro ano do Ensino Médio lhe trouxe os ferramentas necessárias para conseguir desenvolver o tema proposto pelo Enem.
“Foram muitos, muitos e muitos treinos. No colégio, a gente tinha tanto as provas [de redação] da própria escola, feitas pelos professores, quanto as da plataforma SAS”, explica. “Acho que isso foi uma das coisas que mais me ajudou durante o ano porque eu consegui ter acesso a diferentes propostas e temas para ir treinando.”
Para além dos estudos, Letícia contou com outro tipo de treino para manter a cabeça no lugar: a dança. Fã da prática desde cedo, foram os seus talentos na dança que lhe asseguraram a bolsa integral no colégio. Treinava três vezes na semana e garante: era o elixir para a sua saúde mental. “Foi um conforto, era o momento que eu escapava dos problemas da escola e conseguia me concentrar em mim mesma”, diz. Durante o terceiro ano, afirma ter conseguido dividir a rotina de estudos com a dança e os passeios com os amigos e familiares.
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Criou o próprio modelo de redação
Ainda que dê crédito ao rigor do colégio, Letícia também não deixa de reconhecer o próprio mérito. Ao longo do Ensino Médio, ela desenvolveu o próprio modelo de redação – uma espécie de esqueleto de texto, que conseguia usar em qualquer tema. Fugindo de modelos prontos espalhados pelas redes sociais ou difundidos por professores que prometem sucesso garantido, a estudante afirma que foi arquitetando o seu próprio a partir de outras redações nota 980 e 1000 de edições passadas.
A criação começou ainda em 2021, quando estava no primeiro ano do Ensino Médio. Analisava as redações nota máxima – muitas delas, inclusive, disponíveis aqui no GUIA DO ESTUDANTE – investigando cuidadosamente as estruturas frasais, os termos e conectivos usados pelos candidatos. Se via alguma frase que gostava, salvava para si e modificava até se encaixar no tema que escrevia.
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“Acho que isso foi uma das coisas que me fizeram chegar ao mil, porque as pessoas usam modelos de professores, da internet e tudo mais, mas quando você cria o seu próprio, a escrita fica muito mais fácil e fluida”, defende a jovem. “É o que eu mais gosto sobre a minha redação: foi o jeito que eu consegui esse mil, foi o meu mérito.”
Por vezes, o modelo era levado a ferro e fogo. “Eu tinha uma estrutura, mas eu mudava, claro, em questão de repertório e argumentação. Ainda assim, a estrutura sintática, principalmente, era sempre a mesma”, afirma, completando que, por vezes, repetia até os conectivos.
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Argumentação histórica e literária
Na dissertação do Enem 2023, a candidata serviu um prato cheio de repertórios, dando uma verdadeira aula de como usar referências externas de maneira inteligente. Foram quatro repertórios, usados para guiar sua argumentação a respeito do tema.
O primeiro foi um histórico. Simpática à disciplina, usou do período da colonização portuguesa para contextualizar a maneira que as mulheres foram limitadas a tarefas de cuidado. “Comecei o texto falando sobre a história deste tipo de trabalho, de como a mulher foi estereotipada à função do trabalho de cuidado na sociedade.”
Além da tese histórica, contou também com a referência literária. Trouxe para o texto um clássico da literatura nacional – e que também tem um contexto ligado à História: “A Casa das Sete Mulheres”, da autora gaúcha Letícia Wierzchowski. A obra ficou famosa pela sua adaptação em uma minissérie da Globo, em 2003, e narra os desafios de uma família em meio à Revolução Farroupilha.
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Como se as duas referências ainda não fossem o bastante, citou as obras da autora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, e do sociólogo brasileiro Ricardo Antunes. A primeira reflete o papel da mulher da sociedade e os seus estereótipos. Já o segundo, fala sobre a relação humana com o trabalho.
A respeito do tema proposto pelo exame, a estudante admite que gostou da escolha da banca e que já havia trabalhado assuntos semelhantes. “Então, eu já tinha uma ideia do que eu queria falar”, conclui.
* Erramos: na versão anterior deste texto informávamos que a estudante era da região Norte do país. Ela, na verdade, é do Rio Grande do Norte, Nordeste.
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