Formar na escola, passar no vestibular, concluir uma graduação e ingressar no mercado de trabalho a partir do que estudou. Essa é a sequência que temos em mente quando, desde jovens, ouvimos sobre a importância da educação para uma carreira de sucesso. Mas uma pesquisa estadunidense mostra que, atualmente, essa linha está longe de ser reta. Na verdade, para alguns indivíduos, virou uma curva que leva para fora da área de formação. O que, afinal, faz valer o diploma universitário?
Para chegar à resposta, o estudo da Burning Glass Institute utilizou os históricos profissionais de mais de 10 milhões de americanos que adentraram o mercado de trabalho na última década. Os dados mostram que mais da metade (52%) dos graduados, após um ano de formados, não ocupavam cargos condizentes com seu diploma, ocupando-se de trabalhos que não exigiam qualificação. A taxa cai para 45% quando considerados os graduados há cinco ou dez anos.
Para além de fatores como gênero, raça, idade e relevância da universidade cursada, a pesquisa indica que a escolha do curso, o estágio e os primeiros empregos podem ser determinantes para cultivar – e manter – uma carreira na sonhada área de formação.
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Escolha do curso pode definir chances de sucesso
Pode parecer óbvio, mas a escolha do curso é um fator determinante para uma carreira de sucesso. Optar por áreas com pouca demanda, baixo índice de crescimento ou que estão ameaçadas por forças maiores pode contribuir para a dificuldade em encontrar empregos adequados ao diploma. Ainda que a pesquisa tenha levado em consideração o mercado de trabalho dos Estados Unidos, a situação brasileira tem semelhanças.
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Segundo a pesquisa, até mesmo os empregos da área da saúde não estão fora da zona de perigo. Nos EUA, quase metade (47%) dos graduados em cursos relacionados à biologia e ciências biomédicas se mantém em subempregos, mesmo após cinco anos de formado. Graduados de áreas corporativas com menos enfoque em habilidades financeiras, como marketing e recursos humanos, têm o dobro de chances de estarem subempregados do que aqueles com conhecimento em estatística e finanças.
As áreas que possuem um maior número de graduados subempregados cinco anos após a formação, nos Estados Unidos, são:
- Segurança pública (68%)
- Cuidado e bem-estar (60%)
- Negócios (administração, marketing, RH) (57%)
- Humanidades e estudos culturais (55%)
- Artes visuais e performáticas (54%)
- Comunicação e jornalismo (53%)
- Psicologia (53%)
- Ciências Sociais (51%)
- Estudos interdisciplinares (49%)
- Biologia e ciências biomédicas (47%)
- Administração pública e serviço social (44%)
- Física (44%)
- Ciência da Computação (36%)
- Matemática e estatística (35%)
- Educação (34%)
- Arquitetura e urbanismo (30%)
- Economia (29%)
- Engenharia (26%)
- Medicina (23%)
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Importância de estágios e o primeiro emprego
Joseph Fuller, professor que faz parte do projeto “Managing the Future of Work” da Harvard Business School, explica ao Wall Street Journal que é fundamental que os primeiros dois ou três empregos de um graduado sejam adequados ao seu diploma. Do contrário, se ocupam cargos em indústrias divergentes ou desenvolvem certo conjunto de habilidades que não têm a ver com a carreira ou nível de escolaridade, fica difícil fazer um retorno.
A pesquisa revela que, dentro da categoria de graduados subempregados, há um grupo mais prejudicado, os “severamente subempregados”. São indivíduos que estão em cargos que só pedem a necessidade de um diploma de Ensino Médio – ou, às vezes, não pedem formação alguma. Segundo dados, após cinco anos de formado, 88% dos graduados subempregados pertencem a este grupo, trabalhando em cargos como vendas, serviços alimentícios e assistência geral.
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“Precisamos pensar no primeiro emprego pós-faculdade como um marco de alto risco para a carreira, dando a atenção que ele merece”, diz Stephen Moret, presidente e executivo-chefe do instituto.
Um caminho para conseguir um bom primeiro emprego é a realização de estágios durante a graduação. Fazer pelo menos um estágio aumenta significativamente as chances de assegurar um trabalho adequado ao diploma após a graduação. Na área de humanidades e psicologia, a taxa de graduados subempregados cai um quarto quando se trata de universitários que fizeram estágio. Nas Ciências Sociais, cai 40%.
Graduados subempregados são desvalorizados
De acordo com os dados coletados pelo instituto, um graduado na faixa dos 20 anos que ocupa um cargo de trabalho equivalente à sua formação ganha 90% mais do que um indivíduo com apenas o Ensino Médio. Na mesma faixa etária, um graduado subempregado – ou seja, em trabalhos que não exigem qualificação – tem seu salário apenas 25% maior de quem tem somente a formação secundária.
Ou seja, ainda que com um diploma em mãos, um graduado em um emprego não-adequado ao seu diploma é quase tão pouco valorizado quanto alguém que terminou a escola mas nunca cursou uma faculdade.
Os “subempregos” indicados na pesquisa não apenas destoam das habilidades aprendidas durante a universidade, mas são cargos que sequer exigem formação. Seria como um psicólogo que trabalha como motorista de aplicativo.
Vale ressaltar, no entanto, que a pesquisa diz respeito a graduados que trabalham integralmente nestes empregos, excluindo aqueles que podem trabalhar paralelamente em sua área para compensar os custos.
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