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Violência Doméstica

Novos estudos sobre a Guerra Civil Espanhola mostram que a atuação popular nas retaguardas fez dos primeiros meses os mais mortíferos

Por por MAURO TRACCO
Atualizado em 16 Maio 2017, 13h27 - Publicado em 21 jun 2011, 19h04

Há 75 anos, no dia 17 de julho de 1936, uma facção de militares nacionalistas espanhóis começava em Mellila (no então protetorado do Marrocos) o levante que se espalhou pelo país e engatilhou três anos de Guerra Civil. Eles protegiam a coroa, o clero e elites, que, cinco anos antes, haviam perdido poder com a transição da monarquia para uma república dirigida por uma coligação de esquerda.

Meio milhão de pessoas morreram no conflito entre republicanos e nacionalistas, que culminou na ditadura fascista do general Francisco Franco (1939-1975). Mas a violência não se restringiu às linhas de frente. De todas as mortes, 180 mil foram nas retaguardas – em cidades e povoados. Isso se concentrou entre julho e dezembro de 1936, quando morreram 70% dos 130 mil republicanos executados e 80% dos quase 50 mil identificados como nacionalistas, diz o historiador José Luis Ledesma, da Universidade de Zaragoza.

A caça às bruxas envolveu toda a sociedade. Por meio de denúncias, colaboração com as autoridades e participação em milícias, pessoas comuns saldavam velhas dívidas. De um lado, os voluntários do partido da Falange foram peças-chave do fascismo cotidiano. Do outro, o enfraquecimento do Estado republicano levou o poder às ruas. Milícias anarquistas e socialistas atuaram nos primeiros meses sem comando centralizado e assim impuseram sua “justiça popular” – para Ledesma, a violência da zona republicana foi “uma cópia em negativo” do que ocorria entre os rebeldes falangistas. Somente a criação de tribunais em cada lado pôs um freio nas execuções.

TERROR REPUBLICANO
Os abusos cometidos pelos militantes de esquerda

Proliferação de “Fascistas” – Muitos colaboradores republicanos aproveitaram o clima
de vingança generalizado para incluir em suas listas negras o nome de antigos empregadores, ex-namoradas e concorrentes comerciais.

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“Clericídio” – A Espanha em guerra foi o palco da maior matança de eclesiásticos da Europa contemporânea, com cerca de 6,8 mil vítimas. Na diocese de Barbastro, em Aragão, 123 dos 140 membros da Igreja foram assassinados.

Bombas e Vinganças – Bombardeios nacionalistas acarretavam represálias violentas em terra por parte dos republicanos. Terminado o ataque aéreo, uma multidão enfurecida invadia prisões e matava centenas
de fascistas detidos.

Paracuellos, o pior massacre –
Em novembro de 1936, 2,5 mil prisioneiros nacionalistas foram fuzilados e enterrados numa fossa comum em Paracuellos del Jarama, ao lado do aeroporto de Madrid-Barajas. No regime franquista, os mortos viraram mártires.

TERROR NACIONALISTA

Abusos dos militantes de direita

O ESPIÃO MORA AO LADO – Os delatores se multiplicaram exponencialmente. Em Cazalla de la Sierra, Sevilha, um “vermelho” foi detido após chegar à casa dos pais de um companheiro de armas. O dedo-duro foi o vizinho. Acima, um anúncio de jornal estimula denúncias.

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FALANGE AUTORITÁRIA – Em Castilblanco, em Extremadura, o chefe da Falange local assumiu o controle do povoado, praticando extorsões sistemáticas e fuzilando desafetos. Um dia depois de prender um suspeito, intimou sua esposa a comparecer ao quartel, onde foi obrigada a fazer a faxina.

BANDOS DE GUERRA – Nas cidades ocupadas pelos militares, mandados chamados “bando de guerra” autorizaram a execução de milhares de pessoas sem julgamento até fevereiro de 1937, quando foram criados os tribunais militares.

APOIO SOCIAL FORÇADO – Muitos moradores da zona nacionalista preferiam juntar-se aos fascistas a sofrer represálias. Assistir aos fuzilamentos públicos era um ato patriótico e o não-comparecimento era motivo suficiente para ser levado à Justiça Militar.

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