Ainda no clima de prevenção da campanha Setembro Amarelo, o GUIA continua o papo sobre saúde mental, especialmente na escola. Os transtornos de aprendizagem não costumam ter a atenção e o tratamento necessários. Muitas vezes, a família da pessoa com dificuldade não procura assistência médica e é comum a associação do quadro clínico com “preguiça” ou “burrice”. Por isso, é importante entender o que são, quais são os sinais e quais as diferenças entre cada transtorno de aprendizagem.
O que é um transtorno de aprendizagem?
Transtorno de aprendizagem é um termo guarda-chuva usado para se referir a condições neurológicas que afetam a aprendizagem e o processamento de informações, como a dislexia e a discalculia.
Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – 5 (DSM-V), o transtorno de aprendizagem é uma questão de neurodesenvolvimento, ou seja, está ligado aos aspectos fisiológicos. Pode haver interferência de fatores genéticos, ambientais e epigenéticos (não-relacionados a alterações no DNA, mas em sua leitura).
No entanto, transtornos de aprendizagem não devem ser confundidos com a dificuldade de aprendizagem, pois esse tipo de dificuldade está relacionada a condições passageiras: questões emocionais, problemas na família, alimentação inadequada e ambientes tóxicos são as causas mais comuns de dificuldades passageiras.
Já o transtorno de aprendizagem é uma condição permanente, que resulta na inabilidade específica em leitura, escrita ou matemática. De acordo com o Instituto ABCD, uma ONG dedicada ao estudo da dislexia, o diagnóstico para transtorno de aprendizagem deve ser feito, idealmente, por uma equipe multidisciplinar. A composição da equipe pode mudar de acordo com os sintomas, mas geralmente conta com um psicólogo, um neuropsicólogo, um fonoaudiólogo, um médico e um psicopedagogo. A dislexia e a discalculia são os transtornos de aprendizagem mais comuns.
Dislexia
O mais conhecido entre os transtornos de aprendizagem é também um dos mais banalizados. O uso irônico e equivocado do termo “disléxico” causa certa confusão quanto ao real significado do diagnóstico. A dislexia, de acordo com a Associação Brasileira de Dislexia (ABD), é “caracterizada por dificuldade no reconhecimento preciso e/ou fluente da palavra, na habilidade de decodificação e em soletração”. Isso quer dizer que é um transtorno específico de leitura e escrita, podendo atrapalhar, em alguns casos, até a fala.
Segundo a ABD, alguns dos sinais da dislexia na fase da pré-escola podem ser: dispersão, fraco desenvolvimento da atenção e da coordenação motora, atraso do desenvolvimento da fala e da linguagem, dificuldade com quebra-cabeças e falta de interesse por livros impressos.
Discalculia
Enquanto a dislexia representa a deficiência no aprendizado da língua, a discalculia se caracteriza pela menor habilidade em compreender e manipular números. Segundo o iABCD, “a pessoa com discalculia apresenta um desempenho matemático significativamente abaixo do esperado considerando-se a sua idade cronológica, experiências e oportunidades educacionais.”
Isso significa que a dificuldade, neste caso, está no reconhecimento do número e do raciocínio matemático, causando descompasso em relação ao aprendizado de outros alunos em fase escolar que não apresentem o quadro. Há ramificações do diagnóstico, variando entre deficiências específicas de interpretação de equações escritas ou verbalizadas oralmente, por exemplo, então os sinais podem variar muito de caso para caso. Podem se manifestar como a dificuldade em ler enunciados de problemas matemáticos, de raciocínio para resolvê-los ou complicações com orientação espacial. Na infância, a discalculia pode ser notada na dificuldade para aprender a contar até 10, relacionar os símbolos matemáticos aos seus nomes, sequenciá-los ou relacionar quantidades, proporções e padrões.
O que fazer?
Não há cura para transtornos de aprendizagem. Mas o tratamento mais efetivo é muito atrelado ao diagnóstico precoce. Quanto mais cedo se identificar o problema, antes a criança com dislexia ou discalculia vai aprender a se adaptar às ferramentas adequadas e necessárias para ajudá-las em novos processos de aprendizagem. Com o diagnóstico, também há menos probabilidade de atraso significativo na educação ou do surgimento de outros problemas de autoestima e ansiedade associados ao aprendizado.
Por fim, vale frisar que, apesar de poderem se manifestar independentemente, muitas vezes estes transtornos se apresentam ao mesmo tempo. Cada caso é um caso, e o tratamento deve ir de acordo com as recomendações médicas adequadas para cada pessoa. Por isso, além de estar atento aos sinais, é essencial passar por acompanhamento médico para receber um diagnóstico correto e a melhor indicação de tratamento.
E, se você tem um colega que tem um desses transtornos ou mesmo qualquer dificuldade de aprendizado, fique de olho para não contribuir com sua ansiedade na escola. Um ambiente de compreensão é bom e todo mundo gosta!