Por que ‘Memórias Póstumas de Brás Cubas’ é um sucesso atemporal
Professores explicam por que o romance publicado há mais de 100 anos ainda encanta leitores no Brasil e em todo o mundo
Machado de Assis nunca sai de moda. A prova disso é que o escritor voltou a bombar na gringa depois da publicação de um vídeo no TikTok por Courtney Henning Novak, leitora que está avaliando obras de diversos países. Ela leu “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, ficou boquiaberta e o romance foi parar entre os mais vendidos da categoria ”Literatura Latino-Americana e Caribenha” na Amazon dos Estados Unidos. De acordo com alguns professores de literatura, o sucesso atemporal tem explicação.
“O anti-heroi Brás Cubas desnuda um realismo mágico que encanta qualquer leitor minimamente interessado numa boa dose de aventura pelos estreitos canais da ironia e moral”, observa o professor de Literatura do Colégio Marista Pio XII, Ramon Felipe Ronchi.
Abaixo, confira 3 características da obra analisadas pelos professores. Elas ajudam a explicar o sucesso permanente do clássico brasileiro não apenas no nosso país, mas também no exterior.
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Realidade humana perene
Mesmo tendo sido lançado há quase 150 anos, “Memórias Póstumas de Brás Cubas” fala sobre sentimentos humanos que transcendem o tempo, como o ódio, traição e medo. Na opinião da professora de Literatura Brasileira e Portuguesa do Colégio Marista Paranaense, Rosane Decolin, a obra permanece atual por que muitos leitores podem se identificar com as lamúrias do narrador-defunto, o que o humaniza.
“O narrador mesmo descreve que ‘ não teve filhos, mas não deixou o legado da miséria a ninguém’ e isso remete às lutas e conquistas que pessoas fazem ao longo de suas vidas”, reflete.
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Narrativa envolvente
Para quem nunca teve contato com a obra, vale pontuar que a narrativa de ‘Memórias Póstumas’ é não-linear – afinal de contas, Brás Cubas, já morto, vai recordando episódios da sua vida. A história começa da morte do narrador e, a partir daí, vai voltando para a infância e adolescência do anti-herói. De acordo com Gabriela Ceccon, também professora de Língua Portuguesa do Marista, essa desconstrução da narrativa criou uma trama diferente de tudo que havia existido até então na literatura brasileira.
Segundo ela, esse recurso também instiga a curiosidade do leitor – que quer, afinal de contas, desvendar toda a vida do protagonista.
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Quebra da quarta parede
Por fim, Machado de Assis frequentemente rompe a quarta parede, se dirigindo diretamente ao leitor.
Este recurso cria uma conexão íntima e imediata entre o narrador e quem lê, quebrando as convenções tradicionais da narrativa e oferecendo uma experiência de leitura dinâmica e envolvente – mesmo que, de vez em quando, o escritor vá zombar descaradamente de quem se arrisca pelos meandros da vida de Brás Cubas.
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