O Dia 13 de maio marca a Abolição da Escravatura no Brasil, mas também o aniversário de um de nossos maiores autores: Afonso Henriques de Lima Barreto. Mais conhecido como Lima Barreto, o escritor nasceu nesta data em 1881, no final do Império.
Filho de um prestigiado tipógrafo e de uma professora descendente de escravos, Lima viveu toda sua vida no Rio de Janeiro. Nascido no bairro de Laranjeiras, passou parte de sua vida no subúrbio de Todos os Santos – ironia do destino, morreria precisamente em 1º de novembro, dia de Todos os Santos, do ano de 1922.
Um dos maiores nomes da literatura brasileira, Lima teve uma grande contribuição na imprensa da época, publicando crônicas, resenhas e até artigos de humor – alguns deles com pseudônimo. Na literatura de ficção, escreveu contos e publicou seis romances. Entre eles clássicos da literatura, como “Recordações do escrivão Isaías Caminha” – publicado em 1907 em forma de folhetim e dois anos depois em livro – e “O triste fim de Policarpo Quaresma” (1911). Nos contos destaca-se “O homem que sabia javanês”, considerado uma das maiores narrativas breves da nossa literatura. Lima é autor também de “Diário do hospício” (1953), sobre sua passagem pelo Hospício Nacional dos Alienados, e do romance “Cemitério dos vivos” (2010), baseado nessa vivência. Publicados postumamente, os livros partem de sua experiência
A sua obra é profundamente marcada pelas questões políticas e de costumes da República Velha (1889-1930) e pela herança de mais de três séculos de escravatura, além do elitismo do universo literário brasileiro. O próprio autor guardava ressentimento por não ser, por exemplo, admitido na Academia Brasileira de Letras (ABL).
Sua vida foi marcada por uma série de tragédias. Perdeu a mãe aos seis anos e teve de assumir o sustento da família aos 22, diante da loucura do pai. Aos 33 anos, Lima é recolhido pela primeira vez ao hospício, em decorrência de delírios causados pelo uso abusivo de álcool. Voltaria a ser internado em duas ocasiões, até o dia de sua morte. Seu pai, por sua vez, morreria em 3 de novembro de 1922, dois dias depois do filho.
Agora que sabemos um pouco da vida de Lima Barreto, vamos conhecer melhor algumas de suas obras:
Recordações do escrivão Isaías Caminha
O primeiro romance de Lima Barreto narra a história de um jovem que se muda para o Rio de Janeiro, capital da República, e busca estabelecer-se no meio jornalístico. Mesmo sendo qualificado para tanto, o rapaz precisa defrontar-se com as dificuldades impostas a um jovem de origem negra em um país que abolira a escravidão há menos de 20 anos e não reconhecia os negros como cidadãos. O livro, um retrato mordaz do jornalismo e do mundo das letras de então, coloca o autor à margem de boa parte dos veículos da época – sobretudo o Correio da Manhã, jornal onde colaborava e que lhe serviu de inspiração para a obra.
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O triste fim de Policarpo Quaresma
Ambientado no final do século 19, o romance conta a história do major reformado que dá título ao livro. Nacionalista ao extremo, apaixonado pelo Brasil, Policarpo Quaresma é uma espécie de Quixote brasileiro, na luta por fazer do Brasil uma nação grandiosa a partir dos elementos culturais da nossa terra e dos povos originários.
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O homem que sabia javanês
O conto satírico narra a história de um homem que alcança a glória ao fingir falar o idioma do título. O breve texto é uma crítica do autor ao mundo bacharelesco e à burocracia de seu tempo – que, em muitos aspectos, é bastante parecido com os tempos atuais.
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Outros destaques
Há ainda os romances “Numa e Ninfa” (1915), “Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá” (1919), “Os bruzundangas” (1922) e “Clara dos Anjos” (1948). Suas narrativas curtas podem ser encontradas em “Contos completos de Lima Barreto” (Companhia das Letras, org. Lilia Moritz Schwarcz). Suas crônicas podem ser lidas em coletâneas lançadas pela Penguin-Companhia como “Sátiras e outras subversões”, com organização de Felipe Botelho Corrêa, e “Impressões de leitura e outros textos críticos”, organizado pela crítica literária Beatriz Resende.
Biografias de Lima Barreto
“A vida de Lima Barreto” (Autêntica), de Francisco de Assis Barbosa
A obra publicada originalmente em 1952 e relançada em 2017 foi, por anos, considerada a melhor biografia já escrita no Brasil. O livro foi também de fundamental importância para o resgate da obra de Lima Barreto no início dos anos 1950.
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“Lima Barreto, triste visionário” (Companhia das Letras), de Lilia Moritz Schwarcz
Lançada em 2017, esta biografia é a obra mais alenta sobre Lima Barreto. Nela, a autora inflexiona em detalhes a vida do escritor e seu tempo histórico.
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