Se você vai prestar Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) é fundamental conseguir conciliar os estudos das disciplinas, como Química e Geografia, com a leitura das obras obrigatórias que serão cobradas no vestibular. Neste ano, serão nove livros e um deles é “Casa Velha”, escrito por Machado de Assis.
O primeiro passo para se preparar para as questões, é claro, é a leitura da obra completa. Mas, para uma compreensão ainda mais aprofundada, vale a pena ter em mente as principais características do livro para saber como ele pode ser cobrado na hora da prova, incluindo a comparação com outras obras e disciplinas.
Para te ajudar, o GUIA DO ESTUDANTE conversou com Amanda Oscar, professora de literatura e redação do Sistema pH, e levantou os principais pontos que você precisa saber para o vestibular. Veja abaixo:
Resumo de Casa Velha
A história se passa no Rio de Janeiro em um período próximo a 1839. Narrada em primeira pessoa, a novela de Machado de Assis parte da perspectiva de um padre que se propõe a escrever sobre o Primeiro Reinado, de D. Pedro I.
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O narrador-personagem inicia sua preparação fazendo pesquisas, recolhendo os materiais necessários e, assim, descobre uma casa onde poderia consultar periódicos e manuscritos que seriam valiosos para seu trabalho.
A questão é que essa casa, a Casa Velha, pertencia a um ex-ministro, e agora era habitada por sua viúva esposa, D. Antônia, seu filho Félix e agregados, como a jovem Lalau. Com seu jeito manipulador e carismático, o padre se aproxima dos moradores do local, conquista a confiança da viúva e se envolve nas tensões familiares da casa, evidenciando certas contradições da formação da sociedade brasileira.
Assim, ao longo da obra, é possível notar que o enredo gira em torno, na verdade, da história de amor entre o herdeiro Félix e agregada, Lalau, e os seus desdobramentos e intrigas. O romance entre os dois é criticado por D. Antônia, por conta das condições sociais da jovem, e ela chega até a inventar uma mentira – de que eles seriam irmãos – para separá-los.
Principais características da obra
A obra foi publicada inicialmente em formato de folhetim, entre os anos de 1885 e 1886, em uma revista carioca chamada “A Estação”. Apenas em 1943 a história se tornou um livro por conta dos esforços da crítica literária Lúcia Miguel Pereira, que fez o lançamento e a introdução de “Casa Velha”.
Embora Machado de Assis tenha publicado a obra durante sua fase realista e seja considerado um autor dessa vertente, vale destacar que a obra possui traços de sua primeira fase, considerada romântica. É possível dizer, portanto, que ela se apresenta como intermediária entre ambos os momentos do escritor.
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Casa Velha pertence ao gênero novela, que se caracteriza por ser uma narrativa mais extensa que o conto e mais condensada do que o romance, e possui 10 capítulos. Além disso, o fato de a obra ser narrada em primeira pessoa, como em diversas obras machadianas, é algo importante para a trama. Nada ingênuo, o narrador sabe manipular os demais personagens e é o grande articulador de boa parte das intrigas que ocorrem na narrativa.
Outra característica comum a outras obras nacionais do século 19 é a presença da figura dos agregados, indivíduos pobres que devido a alguma situação específica precisavam viver às custas de um senhor. A presença constante dessas personagens nas obras de Machado de Assis, especificamente, indica que essa figura era comum na sociedade do período e isso ajuda a localizar a obra temporalmente, já que a data exata em que se passa a história não é revelada no livro.
Entre as personagens, também há uma clara distinção da posição social que cada uma ocupa e as ações do padre (que desejava casar Félix e Lalau) ameaçam a ordem dessa constituição hierárquica.
Como o livro pode ser cobrado pela Unicamp?
Além do conhecer o gênero novela e os elementos da narrativa (narrador, espaço, tempo, personagens, foco narrativo e enredo), segundo a professora do Sistema pH, é fundamental entender como a obra de Machado de Assis retrata a cultura patriarcal. Afinal, a Casa Velha era comandada por D. Antônia, mas as decisões são tomadas como se seu falecido marido ainda estivesse lá.
Outro ponto que pode ser explorado nas questões é a não-aceitação de um romance entre pessoas de condições sociais diferentes, já que Félix era o herdeiro e Lalau era considerada apenas uma agregada – constituindo-se como uma crítica social sobre as relações de poder entre as classes sociais.
“Para a Unicamp, é preciso se preparar com a leitura aprofundada das obras. Ao estudar, uma boa dica é fazer anotações sobre cada capítulo, relacionando a obra ao momento histórico, a paralelos com a atualidade (quando houver) ou a outras obras”, diz a especialista. Ela reforça que basear todo o estudo apenas na leitura de resumos não é uma boa prática, pois o vestibular da Unicamp exige um conhecimento mais aprofundado por parte dos candidatos.
Além disso, a Unicamp apresenta um tipo de prova que cobra do estudante a capacidade de compreensão de obras pertencentes a diferentes gêneros, o discernimento entre eles e a capacidade de análise e de interpretação. Também é comum que a banca explore questões que demandam habilidades comuns tanto aos estudos literários quanto à língua portuguesa.
Como o livro se relaciona a outras obras da lista
Alguns vestibulares que cobram uma lista de obras obrigatórias costumam elaborar questões que relacionam ou comparam livros dessa seleção. Por isso, vale se atentar às semelhanças e aos traços que podem “unir” as narrativas.
No caso de “Casa Velha”, seria possível, por exemplo, estabelecer relação com o livro O Ateneu, que também está na lista da Unicamp. O romance naturalista memorialístico de Raul Pompeia, também é narrado em primeira pessoa (com características e estilo muito diferentes daquelas do narrador machadiano) e se aproxima da obra de Machado por também trazer uma crítica social.
Em seu romance, Raul Pompeia critica a existência de uma sociedade corrupta, representada por um internato, onde os mais fortes sobrevivem.
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Outras disciplinas
Analisando a obra por uma perspectiva ainda mais ampla, é possível relacioná-la com outro disciplina cobrado pelos vestibulares, a História, principalmente o período do Primeiro Reinado. Embora o padre, no fim das contas, não cumpra ao que se propôs no início da novela, é possível fazer um paralelo entre esse período e a trama que envolve a história de amor narrada, com o ex-ministro representando a figura de D. Pedro I, o padre, representando a Igreja Católica, e Félix representando D. Pedro II, por exemplo.
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Além disso, outros temas da prova relacionados à Sociologia estão presentes na obra, como crítica social por conta das hierarquias presentes na sociedade da época.
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