Antes de Sacha Baron Cohen encarnar o personagem principal do filme Borat: o Segundo Melhor Repórter do Glorioso País Cazaquistão Viaja à América, o Cazaquistão era apenas uma ex-república soviética esquecida. O humorista britânico, que ganhou o Globo de Ouro de melhor ator, recolocou o país no mapa. Com o sucesso mundial do longa, o nono maior país do mundo (pouco povoado, com 15 milhões de habitantes) ganhou fama. E virou um dos destinos turísticos que mais crescem, segundo o jornal britânico The Sun. Até então, viajar para lá era sonho de cosmonauta: foi da base de Baikonur, no deserto cazaque, que o brasileiro Marcos Pontes partiu, em 2006, para a órbita da Terra.
Porém a cidade que serviu de cenário para o filme é Glod, na Romênia. Sobre o Cazaquistão, Borat só traz duas verdades: o nome da moeda, tenge, e o do presidente, Nursultan A. Nazarbayev.
O país, vizinho da Rússia, é habitado por uma maioria étnica descendente de turcos nômades que passaram por ali a partir do século 8. A região já foi invadida por persas e árabes e mais tarde, no século 13, por Gêngis Khan. No século 15, os cazaques e povos vizinhos formaram três governos, cada um responsável por uma região. A Grande, a Média e a Pequena Horda eram formadas por clãs, cujo líder tinha o título mongol Khan. No século 17, as hordas perderam a autonomia e começaram a sofrer invasões. Por isso, os cazaques pediram proteção ao Império Russo.
A proteção se converteu em domínio e, no século 20, a ocupação foi oficializada. Após a Revolução Bolchevique, em 1917, o Cazaquistão foi anexado à Rússia. O período de fome que se seguiu matou pelo menos 1 milhão de cazaques. Durante o governo stalinista, mais fome, massacres e deportações para o país. Em 1991, com o esfacelamento da União Soviética, o país se tornou independente. Hoje, a riqueza do petróleo transforma seu horizonte semi-árido. Na capital, Astana, há cada vez mais hotéis – que já abrigam os fãs de Borat.
A Brasília cazaque
Presidente ditador construiu capital no meio do nada
Capital do país desde o fim de 1997, Astana, localizada na estepe árida, é a Brasília do Cazaquistão. Uma Brasília mais, digamos, extravagante. Bem ao gosto do presidente ditador Nursultan Nazarbayev, um burocrata da era soviética que governa o país com mão de ferro. Construída com o dinheiro do petróleo – um terço do Produto Interno Bruto do país, de 56 bilhões de dólares, vem de sua exportação –, a capital já custou até agora 7 bilhões para os cofres públicos. Até 1997, a capital cazaque era Almaty. Oficialmente, a mudança para Astana tem duas razões: 1) Almaty está localizada em uma região vulnerável a terremotos; 2) com Astana, há a possibilidade de fortalecer a unidade nacional, integrando politicamente a região nordeste, povoada, em grande parte, por descendentes de imigrantes russos. No entanto, a versão de que a mudança atende a um capricho do presidente é a mais verossímil para a opinião pública. Hoje, cerca de 600 mil pessoas moram na atual capital – que, no inverno, registra temperaturas de 40 graus negativos. “O arquiteto-chefe (de Astana) é o presidente em pessoa”, disse em uma entrevista o porta-voz do Ministério do Exterior, Yerzan Ashykbayev. Essa pode ser a explicação para o gosto um tanto estranho do Palácio da Paz e do Acordo, edifício inaugurado no fim do ano passado. Ele tem o formato de uma pirâmide, com 25 andares. Abriga, entre outras coisas, uma sala de ópera para 1500 pessoas e uma universidade. Calcula-se que vários outros bilhões de dólares serão empregadas na capital cazaque. Entre os projetos de Nazarbayev está a construção de uma área de 28500 metros quadrados inspirada nos Jardins Suspensos da Babilônia.