“Ainda Estou Aqui”: resumo e análise da obra de Marcelo Rubens Paiva
Muito além de um relato biográfico, a obra trás um breve panorama da História do Brasil naquele período
Leitura obrigatória do vestibular da Universidade Federal de Grande Dourados (UFGD), “Ainda Estou Aqui” (2015) é o livro de Marcelo Rubens Paiva que foi adaptado para o cinema por Walter Salles, mesmo direto de “Central do Brasil”. A obra concorreu ao Oscar 2025, levando a estatueta de Melhor Filme Internacional.
O GUIA DO ESTUDANTE traz abaixo um resumo da obra, além de uma análise dos principais aspectos da narrativa. Para isso, contamos com a ajuda de Maria Clara Martho, professora de Literatura e de Redação do Poliedro Curso SP. Confira!
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A história de Ainda Estou Aqui
“Ainda Estou Aqui” é uma obra biográfica que conta o desaparecimento do deputado Rubens Paiva durante a Ditadura Militar de 1964. É um compilado de memórias de Marcelo Rubens Paiva, que tinha 11 anos na época, filho do deputado e autor do livro, e Eunice Paiva, mãe de Marcelo e viúva de Rubens.
O relato coloca o leitor no centro do momento mais difícil enfrentado pela família Paiva e acompanha a angústia principalmente de Eunice. Rubens Paiva, que já havia sido cassado e atravessado um período de exílio, foi cercado pelos militares em sua própria casa, em janeiro de 1971, no Leblon. A partir deste momento, as versões sobre o que teria acontecido foram muitas – a maioria delas, mentirosas.
Depois do desaparecimento de Rubens, a família deixa o Rio de Janeiro, seguidos da esperança de Eunice por justiça. Os órgãos oficiais ora alegavam que Rubens Paiva havia sido sequestrado por desconhecidos e tirado da custódia dos militares, ora afirmavam que havia fugido para Cuba e mantinha uma segunda família.
Pouco tempo depois, a própria Eunice Paiva é levada presa pelo DOI (Departamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna) ao lado da filha, Eliana, que tinha apenas 15 anos de idade na época. Ambas são liberadas.
Com a prisão de Eunice, as crianças são separadas por familiares para segurança. Nalu foi levada para Petrópolis, cidade do Rio de Janeiro, Marcelo para o sítio da família em Araras, um distrito de Petrópolis, e Babiu ficou com os avós na casa da família no Leblon.
“A figura da mãe, Eunice, é central na busca pelo marido desaparecido; enquanto o pai, Rubens Paiva, ganha destaque pelas lembranças que o filho guarda dele.”, comenta a professora.
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O narrador de Ainda Estou Aqui
O narrador de “Ainda estou aqui” é o próprio Marcelo Rubens Paiva, através de suas lembranças e da memória de sua mãe, já que o livro tem teor autobiográfico.
Porém, ele não respeita a ordem cronológica dos fatos. A narrativa acontece de acordo com o tempo psicológico, sendo organizada através das memórias dele.
A época e o tempo na obra
A história se passa durante os Anos de Chumbo da Ditadura Militar, que durou de 1969 a 1974, no mandato do general Emílio Garrastazu Médici. Estes anos foram caracterizados pela multiplicação das acusações de tortura e de desaparecimento de opositores.
Já o tempo narrativo não é linear. Passado e presente se misturam, uma vez que Marcelo usa o passado para contar os episódios que aconteceram em momentos anteriores ao da narração – seja na infância, seja na vida adulta –, mas tece comentários no presente que revelam seus pensamentos e sua visão de mundo.
A professora destaca o trecho a seguir para mostrar esta oscilação:
“Tudo bem, mãe. Tudo bem, é normal esquecer, você está velha, acontece, todos nós esquecemos […]. O juiz perguntou pois queria saber se tínhamos uma causa, se abria o processo.”
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Os personagens de Ainda Estou Aqui
- Eunice Paiva: a mãe que busca pelo marido desaparecido;
- Rubens Paiva: que ganha destaque pelas lembranças do filho e narrador;
- Marcelo Rubens Paiva: o narrador e comentarista dos diferentes episódios vividos pela família, com 11 anos na época;
- Veroca: a filha mais velha de Eunice e Rubens, irmã de Marcelo, que estava em Londres durante boa parte dos acontecimentos;
- Eliana: a filha que foi levada ao DOI-Codi junto com Eunice, aos 15 anos de idade;
- Nalu: a filha com 13 anos na época;
- Babiu: a filha mais nova dos 5 irmãos, com 10 anos na época;
- Maria José: a empregada da família que fica com Nalu, Marcelo e Babiu quando Eunice é presa;
- Cecília: professora Veroca, Eliana e Nalu que foi presa e torturada pelo DOI, e comunicou a família que ouviu a voz de Rubens sendo interrogado.
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As mensagens do livro
“Ainda Estou Aqui” é um livro principalmente sobre memória. Seja a recuperação do que foi perdido na época da Ditadura Militar ou a perda de memória de Eunice. Ou, ainda, as lembranças do próprio Marcelo crescendo sem um pai e, no futuro, assumindo a responsabilidade sobre sua mãe.
O autor reflete sobre como as memórias se perdem, mas também sobre como elas se criam. Além de também falar de memória coletiva, por meio da História do Brasil. Além disso, outra mensagem central da obra é a busca por justiça, já que toda a narrativa é guiada pela figura de Eunice Paiva, que luta para descobrir a verdade sobre o que aconteceu ao marido.
Em segundo plano, está o tom político da obra, que ao narrar práticas violentas do regime militar, sai em defesa da democracia. Por fim, pauta o envelhecimento, já que Marcelo acompanha a mãe, agora idosa, e o desenvolvimento do Alzheimer.
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O autor
Marcelo Rubens Paiva é escritor, dramaturgo e roteirista. Estreou na carreira literária com “Feliz Ano Velho” (1982), livro best-seller em que relata o acidente que o deixou tetraplégico.
É autor de uma extensa lista de romances: Blecaute (1986), Ainda Estou Aqui (2015), Meninos em Fúria (2016), em parceria com Clemente Tadeu Nascimento, e Do começo ao fim (2022). Além disso também escreveu peças teatrais e roteiros para o Cinema e a TV.
Recebeu prêmios importantes, como Jabuti, Prêmio Shell, Moinho Santista e da Academia Brasileira de Letras.
Trinta e três anos depois de sua primeira autobiografia, assinou um novo relato, “Ainda Estou Aqui”, sobre o desaparecimento do pai, o deputado federal Rubens Paiva, cassado no golpe militar de 1964 e torturado e morto por militares em 1971.
Em 2024, “Ainda Estou Aqui” ganhou adaptação para o Cinema, com direção de Walter Salles, e foi vencedor do prêmio de melhor roteiro na 81ª edição do Festival de Veneza.
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