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Interpretação de texto: Os caminhos da argumentação e da persuasão

Argumentação eficaz

Todo texto opinativo apresenta estratégias para convencer o leitor a aderir a determinado ponto de vista

Este artigo, publicado no site do Instituto de Reintegração do Refugiado – Brasil (Adus), em 6 de setembro de 2015, é um exemplo de texto argumentativo, que tem o objetivo de persuadir o leitor a favor de um determinado ponto de vista. No caso, o instituto promove a inserção dos refugiados no Brasil e defende que toda a sociedade deve ser responsável por essa acolhida.

Para defender sua opinião (tese), os autores expõem seus argumentos até chegarem a uma conclusão (acompanhe no texto abaixo). As funções apelativa e emotiva da linguagem conferem ao texto certo apelo sentimental, cumprindo o propósito de emocionar o leitor e aproximá-lo do drama vivido pelos refugiados. A escolha de determinadas palavras e construções e a utilização de dados estatísticos, que reforçam os argumentos, também têm caráter persuasivo.

Vale notar que as conjunções são exploradas como elemento de coesão e de argumentação, conduzindo o leitor a uma leitura que se ajuste aos argumentos defendidos pela autora.

Interpretação de texto: Os caminhos da argumentação e da persuasão

Nas últimas semanas, as trágicas histórias narradas por meio de fotografas mostram os resultados de políticas de fechamento de fronteiras postas em prática por alguns países da Europa[1] para pessoas que chegam dos mais diversos lugares do mundo em busca de segurança e asilo. São pessoas que  tiveram que abandonar suas casas em seu país de origem por enfrentarem a dor do conflito e as graves violações de direitos humanos, ou a perseguição por motivos de raça, religião, opinião política, orientação sexual, nacionalidade ou associação a determinado grupo social.[2][3]

A foto de Aylan, criança síria afogada na costa da Turquia, choca. E ela é também um chamado para a defesa dos direitos dos refugiados.[4] Sentimos muito[5] pelas inúmeras mortes, registradas e não registradas, nesse contexto. Esperamos que essa imagem e o sentimento que ela provoca tenham reflexos na política europeia, e também no restante do mundo. A mensagem é clara: há uma responsabilidade compartilhada em relação à política de migração diante de tamanha crise humanitária[6], que obriga milhões de pessoas a deixarem seus países pelo temor e terror que vivenciam.

Segundo a ONU, o número de refugiados, hoje, é o maior da história, comparável ao contexto do pós-Segunda Guerra Mundial. Mas[7] a crise não é de agora. O número de refugiados no mundo vem crescendo há alguns anos, e apesar do atual peso da Síria como um país que gera[8] refugiados significativamente, ela é apenas um deles.  A própria diversidade de mais de 80 nacionalidades representadas na população de refugiados no Brasil sustenta este fato. De acordo com o Conare (Comitê Nacional para Refugiados), as maiores comunidades de refugiados no Brasil são: síria (24,7%), angolana (17,6%), colombiana (13%) e congolesa (10%).[9]

A particular postura do Brasil ao facilitar a emissão de vistos para os sírios depois de uma resolução adotada pelo Ministério da Justiça em 2013 tem peso positivo e marca uma das maiores receptividades das Américas neste contexto. Mas, além de abrir suas portas, se faz importante que o país implemente uma política de acolhimento e atenção às necessidades específicas dos refugiados[10], pautada pela reintegração. É preciso garantir que estas pessoas explorem ou continuem a explorar seus potenciais como seres humanos, enriquecendo a cultura local e contribuindo para o desenvolvimento nacional. Experiências em nossa história revelam que isolar, excluir e ignorar minorias apenas presta um desserviço à população, fomenta intolerâncias, preconceitos, discriminação e violência, minando mesmo a segurança pública[11]. Ao atravessar as fronteiras, as dificuldades não acabam para essas pessoas que buscam salvar suas vidas, nem se encerram seus sofrimentos e lutas. (…)

Se, por um lado, os Estados e a comunidade internacional têm um papel crucial para o fim dos conflitos e para a proteção das populações de refugiados, por outro, é preciso reconhecer que a própria sociedade civil tem tido grande importância na busca de soluções para a crise humanitária e na garantia dos direitos humanos[12]. Apesar das infelizes declarações[13] xenófobas, são alentadoras as notícias de milhares de islandeses oferecendo suas casas e de alemães usando aplicativos e tecnologias para receber refugiados na Europa. Essas iniciativas mandam recados aos governos.

No Brasil, organizações da sociedade civil como o Adus buscam ajudar o Estado a dar uma resposta às necessidades dessas pessoas que aqui chegam para salvar suas vidas[14]. Nos últimos dias, muitas pessoas e instituições entraram em contato com o Adus para ajudar e para entender a questão na Europa e como isso repercute aqui no Brasil. Agradecemos enormemente[15] àqueles que de alguma forma dedicam seu tempo, atenção e recursos financeiros para que possamos continuar nosso trabalho. Estendemos aqui nosso convite[15] para que esse  apoio seja constante[15], em prol de um mundo mais humano e justo[15].

Texto: Equipe do Programa de Advocacy do Adus –  Instituto de Reintegração do Refugiado

[1]OPINIÃO: Mesmo antes de caracterizar os refugiados e expor seus dramas, os autores já mostram sua opinião: há uma crítica ao fechamento das fronteiras de alguns países da Europa, cujos resultados são “trágicas histórias”.

[2]INTRODUÇÃO: Apresenta as questões centrais, que serão desenvolvidas ao longo do texto: quem são os refugiados, por que deixam seus locais de origem e problemas que enfrentam ao chegar a outros países.

[3] ENUMERAÇÃO: A enumeração das motivações que levam um indivíduo a se tornar refugiado também é um elemento persuasivo, pois dificilmente alguém se oporia a tantos motivos

[4]IMAGEM E  FUNÇÃO APELATIVA: A menção à famosa foto do garoto sírio que morreu afogado na costa da Turquia busca comover o leitor e persuadi-lo a tomar posição a favor dos refugiados – características da  função apelativa.

[5] FUNÇÃO EMOTIVA: Expressa uma emoção ou ponto de vista. O uso da primeira pessoa do plural cria cumplicidade em relação à questão tratada.

[6]TESE E ÊNFASE: Os autores explicitam claramente sua tese (usando a expressão “a mensagem é clara”): a responsabilidade pelo acolhimento dos  refugiados é de todos (responsabilidade compartilhada).

[7]CONJUNÇÃO: A conjunção coordenada adversativa “mas” foi empregada como valor de ressalva e estabelece oposição. Busca reforçar que a crise não é recente e que não basta simplesmente receber os refugiados.

[8] VOCABULÁRIO E PERSUASÃO: O verbo “gerar” tem forte poder persuasivo. O texto sugere que há situações muito adversas que acabam propiciando o surgimento de pessoas que vivem em situação de risco.

[9] DADOS ESTATÍSTICOS: Contribuem para o efeito persuasivo e argumentativo do texto, uma vez que conferem ao argumento rigor científico.

[10] ARGUMENTOS: Aqui os autores apresentam seus argumentos: a criação de políticas de acolhimento.

[11] CONTRA-ARGUMENTO: Os autores se antecipam ao possível argumento de que uma saída seria isolar, excluir ou ignorar as minorias.

[12] PROGRESSÃO TEXTUAL: A cada argumento, os autores retomam a tese inicial, criando um encadeamento lógico. Alternam-se informações novas e exemplos que ilustram sua tese.

[13] ADJETIVO PERSUASIVO: O substantivo “declarações” associado ao adjetivo “infelizes” tem função enfática e leva o leitor a não se opor à ideia de que declarações xenófobas são infelizes.

[14] CONCLUSÃO: Os autores reafirmam sua ideia inicial e justificam a existência do próprio instituto.

[15] COESÃO E PROGRESSÃO: A sequência das expressões em destaque reforça a conclusão. Os autores agradecem as contribuições, estendem o convite e reforçam o caráter humano da medida. Tudo isso garante a coesão do texto e reforça a progressão das ideias.

Interpretação de texto: Os caminhos da argumentação e da persuasão

COMO UM TEXTO ARGUMENTATIVO É CONSTRUÍDO  

Todo texto que manifesta uma opinião ou defende um ponto de vista parte da apresentação da ideia que será discutida (tese). As linhas iniciais dos textos argumentativos costumam trazer uma introdução ao assunto, na qual se explicita também o posicionamento do sujeito enunciador.

  • Persuasão: É o processo de levar o interlocutor (aquele com quem se fala) a aderir à ideia e à ação propostas pelo enunciador (aquele que articula e envia uma mensagem).
  • Argumentos: São todos os elementos – afirmações, comparações, exemplos – apresentados para reforçar a tese do autor.
  • Contra-argumentos: O texto argumentativo pode prever algumas reações contrárias ao ponto de vista defendido e, na tentativa de reforçar a ideia em questão, rebate antecipadamente esses possíveis argumentos.
  • Conclusões: Ainda que diversas questões polêmicas não cheguem a uma conclusão categórica, todo texto argumentativo tem um acabamento final. O fechamento de um texto deve ser coerente com as ideias apresentadas nos parágrafos anteriores e deve reforçar o ponto de vista defendido. As últimas linhas recuperam a tese inicial e, a partir dos argumentos apresentados, reafirmam a proposta central.
Interpretação de texto: Os caminhos da argumentação e da persuasão
Estudo
Interpretação de texto: Os caminhos da argumentação e da persuasão
Argumentação eficaz Todo texto opinativo apresenta estratégias para convencer o leitor a aderir a determinado ponto de vista Este artigo, publicado no site do Instituto de Reintegração do Refugiado – Brasil (Adus), em 6 de setembro de 2015, é um exemplo de texto argumentativo, que tem o objetivo de persuadir o leitor a favor de […]

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