Idade Contemporânea: O fim da Guerra Fria
EFEITO DOMINÓ A queda do Muro de Berlim, em 1989, marca o colapso do bloco socialista: uma a uma, as nações da Cortina de Ferro passaram por intensas reformas
O desmoronamento soviético
A desintegração da URSS e a redemocratização dos países socialistas do Leste Europeu marcam o fim da Guerra Fria, com o triunfo do capitalismo comandado pelos EUA
Uma série de reformas adotadas pela União Soviética (URSS) nos anos 1980, visando à recuperação da economia, e a ascensão de movimentos nacionalistas e pró-democracia levaram ao esfacelamento da nação, com todo o bloco socialista. Essa derrocada marcou o fim da Guerra Fria, encerrando a polarização entre norte-americanos e soviéticos.
A URSS já passava por uma grave crise ao fim dos 18 anos do governo de Leonid Brejnev, em 1982. O governo centralista e altamente burocratizado causou sérios prejuízos à economia do país, que ficou estagnada enquanto os gastos com armamentos aumentaram. Para piorar, em 1979, a URSS invadiu o Afeganistão, ocupando militarmente o país até 1988. Esse esforço de guerra contribuiu para enfraquecer ainda mais a economia.
O panorama político começou a mudar em 1985, quando Mikhail Gorbatchov assumiu o governo, iniciando duas grandes reformas. Na política, a glasnost (transparência) abrandou a censura e abriu espaço à liberdade de expressão. Na economia, a perestroika (reestruturação) liberalizou a economia, restabelecendo, com limites, a propriedade privada e permitindo a instalação de empresas estrangeiras. Gorbatchov também melhorou as relações com o Ocidente e assinou acordos com os Estados Unidos (EUA) para frear a corrida armamentista.
Agitação política
Enquanto a URSS iniciava o processo de abertura política e econômica, movimentos pró-democracia ganhavam força em alguns dos oito países do Leste Europeu que formavam parte do bloco socialista: Polônia, Tchecoslováquia, Romênia, Bulgária, Hungria, Iugoslávia, Albânia e Alemanha Oriental. No passado, era parte da doutrina soviética intervir em nações que se desviassem do socialismo, mas Gorbatchov indicara que não usaria a força para manter o bloco unido.
A derrocada dos governos socialistas no Leste Europeu teve início na Polônia, onde greves culminaram em 1980 na formação, por operários e intelectuais, do sindicato independente Solidariedade. Mas em 1982 o governo tornou o Solidariedade ilegal, medida que só seria anulada em 1989. Em junho daquele ano, o Solidariedade venceu as eleições parlamentares e, no ano seguinte, seu líder, Lech Walesa, foi eleito presidente.
Queda do muro de Berlim
Na Hungria, a abertura da fronteira com a Áustria, em setembro de 1989, levou milhares de alemães orientais a cruzar o território húngaro em direção ao austríaco, com destino à Alemanha capitalista. Enquanto a migração se realizava, agitações ocorriam por todo o Leste Europeu.
Essa efervescência política culminou no episódio que simbolizou a desintegração do bloco: a queda do Muro de Berlim. Na noite de 9 de novembro de 1989, o muro foi tomado por manifestantes dos lados ocidental e oriental. Sob pressão, os guardas começaram a liberar a passagem para quem quisesse atravessar a fronteira. Nas horas seguintes, centenas de moradores dos dois lados saltaram a muralha que separava a cidade para se confraternizar, enquanto uma multidão com marretas, martelos e barras de ferro começava, aos poucos, a arrancar pedaços da construção. Caía, assim, o Muro de Berlim, o maior símbolo do período da Guerra Fria. O evento deu início à reunificação do país, concluída em 1990.
Guerra e paz
A queda do muro abalou todo o Leste Europeu. Em alguns países, como a Tchecoslováquia, a transição foi pacífica. Se em 1968 os tanques soviéticos esmagaram um processo de democratização do socialismo – a Primavera de Praga –, em 1989 os intelectuais tchecos conseguiram consumar um amplo movimento de liberalização. A onda popular culminou com a deposição do presidente e a libertação do dramaturgo Václav Havel, líder da oposição que se tornou presidente. Por seu caráter pacífico, o movimento ficou conhecido como Revolução de Veludo. O processo resultou no desmembramento da Tchecoslováquia em dois países independentes, em 1993: a República Tcheca e a Eslováquia.
Já na Iugoslávia, a pressão pelo fim do socialismo levou a um violento processo de desintegração do país, cujo capítulo mais sangrento foi a Guerra da Bósnia (1992-1995), o mais prolongado e violento conflito na Europa desde a II Guerra Mundial, com 200 mil mortos. A antiga Iugoslávia originou seis novas repúblicas: Eslovênia, Croácia, Bósnia-Herzegóvina, Sérvia, Montenegro e Macedônia. Em 2008, o Kosovo declarou independência da Sérvia, mas a província ainda não foi reconhecida pela ONU como Estado independente.
O fim da URSS
Como não poderia deixar de ser, essa agitação política atingiu em cheio a principal nação socialista. Na URSS, a ineficiência da agricultura e as reformas econômicas provocaram escassez de alimentos e aumento da inflação, o que gerou forte pressão popular. Ao mesmo tempo, a abertura política fortaleceu os movimentos nacionalistas nas 15 repúblicas que compunham o país. O presidente do Soviete Supremo (Parlamento) da Federação Russa, Boris Iéltsin, defendia a aceleração das reformas e, em agosto de 1991, mobilizou a população para evitar um golpe militar contra Gorbatchov. Fortalecido, Iéltsin promoveu a desmontagem das principais instituições socialistas russas, esvaziando o poder de Gorbatchov, que renunciou no mesmo ano.
Em dezembro de 1991, a superpotência teve fim e, com ela, a Guerra Fria. No lugar da URSS, surgiram 15 repúblicas independentes (veja o mapa acima), sendo a principal a Federação Russa, que elegeu Iéltsin presidente. Com exceção de Estônia, Letônia e Lituânia, essas repúblicas passaram a integrar a Comunidade dos Estados Independentes (CEI), um fórum de coordenação política e econômica.
Após a dissolução da URSS, a Rússia, perdeu poder econômico e militar e deixou de ser ator decisivo na geopolítica global. O planeta assistiu, então, ao surgimento de uma nova ordem mundial, marcada pela supremacia dos EUA como a única superpotência e pela consolidação do capitalismo como sistema econômico dominante.
No filme Adeus, Lênin!, de Wolfgang Becker, a ação se passa durante o processo de reunificação da Alemanha, quando uma comunista devota sai do coma e não sabe que o Muro de Berlim foi derrubado. Temendo que a mudança política agrave o estado de saúde da mãe, seu filho elabora um plano para que ela pense que tudo continua como antes.
O AVANÇO DA UNIÃO EUROPEIA SOBRE A ÁREA DE INFLUÊNCIA DA RÚSSIA
Em 1992, um ano após o desmembramento da União Soviética (URSS), o Tratado de Maastricht oficializava a criação da União Europeia, o mais ousado passo para a integração política e econômica do continente. Ela é baseada em quatro fundamentos: livre circulação de mercadorias, de capitais, de serviços e de pessoas. Em 2002, o lançamento do euro, a moeda comum, consolidou ainda mais a união financeira do bloco.
Inicialmente com 12 países, o bloco se expandiu nos anos seguintes. Aproveitando a instabilidade da Rússia, que ainda se adaptava a uma nova ordem pós-Guerra Fria, a UE avançou para o leste. Em 2004, o bloco passou a abrigar nações que faziam parte da esfera de influência soviética, como Polônia, Hungria e República Tcheca, e até mesmo antigas repúblicas da URSS, como Estônia, Letônia e Lituânia. Ainda hoje, o governo russo se ressente desse avanço europeu em sua tradicional área de controle geopolítico. Atualmente, o bloco enfrenta uma grave crise econômica, com o elevado endividamento de nações como Grécia e Portugal, e política, devido ao pedido do Reino Unido para se retirar do bloco.