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Idade Média: Feudalismo

Idade Média: Feudalismo

PACTO FEUDAL Na sociedade medieval, servos e camponeses usavam as terras dos senhores feudais em troca da prestação de serviços e do pagamento de tributos

 

A Europa de padres, senhores e servos

 

 Após a ruína dos Impérios Romano e Carolíngio, o sistema feudal reinou no Velho Mundo. Veja como foi esse processo e como era a vida nessa época

 

O feudalismo foi o sistema político, social e econômico que predominou na Europa durante a Idade Média. Era marcado pela descentralização política, pela imobilidade social e pela autossuficiência econômica dos feudos – as unidades de produção da época. Começou a se desenvolver após a queda do Império Romano do Ocidente, no século V, consolidou-se no século X, atingiu o auge no século XII e a partir do século XIII entrou em colapso.

Formação e economia

A partir do século V, com o enfraquecimento do Império Romano, a Europa passou a sofrer diversas invasões dos povos bárbaros, como os vândalos; os anglo-saxões, que desembarcaram na Inglaterra; e os lombardos, que se instalaram na Itália. Eles destruíram as instituições romanas, mas, com exceção dos francos (), não conseguiram substituí-las por outro Estado forte. A tomada do controle do comércio no Mar Mediterrâneo pelos árabes, nos séculos VII e VIII, deixou os europeus ainda mais enfraquecidos.

O clima de insegurança e instabilidade prosseguiu até o século IX, quando ocorreu uma nova onda de invasões, realizadas pelos húngaros magiares e pelos normandos (conhecidos como vikings). Como forma de defesa, os nobres construíram castelos que funcionavam como fortalezas, em torno dos quais a população pobre se instalou, buscando proteção. Essas propriedades ficaram cada vez mais isoladas umas das outras, o que criou a necessidade de produzir ali mesmo o que era preciso para sobreviver. A agricultura se tornou a atividade econômica mais importante. A produção era voltada para o consumo interno, e o comércio era quase nulo. Os donos das terras tornaram-se os grandes chefes políticos e militares. Era o início do feudalismo.

Política

A principal característica política do feudalismo era a descentralização do poder. O rei tinha pouca ou nenhuma autoridade e, em troca de ajuda militar, era comum que cedesse grandes porções de terra (os feudos) a membros da nobreza. Esse costume, o , se tornou hábito entre os nobres, e eles passaram a doar terras entre si. Numa cerimônia denominada homenagem, o proprietário que recebia o domínio – vassalo – prometia fidelidade e apoio militar ao doador – suserano. Este, por sua vez, jurava proteção ao vassalo.

Essa obrigação recíproca, uma das características mais marcantes do feudalismo, teve origem nas tradições dos invasores germânicos, que praticavam o comitatus – fidelidade mútua entre chefes tribais e guerreiros. Outros costumes que influenciaram a ordem feudal vieram de Roma, como o colonato, que impunha a fixação do homem à terra e virou prática fundamental no regime da Europa medieval. Por essa dupla herança, pode-se dizer que o feudalismo é resultado dos mundos romano e germânico.

Sociedade

A sociedade feudal estava dividida basicamente em dois estamentos e três estados (também chamado ordens):

  •  o primeiro estamento era o dos proprietários, dividido em primeiro estado, formado pelo clero, e segundo estado, constituído pelos nobres.
  •  o segundo estamento era o dos trabalhadores, formado pelo terceiro estado, onde se encontravam os servos e outros camponeses.

Os senhores feudais podiam pertencer tanto à nobreza quanto à Igreja. A posição que as pessoas ocupavam na sociedade (hierarquia) era determinada pelo nascimento, o que significa que a mobilidade entre os estamentos era impossível.

Os servos não eram escravos, porque não pertenciam ao senhor – não podiam ser vendidos, por exemplo –, mas dependiam totalmente da estrutura que ele possuía. Em troca do direito de usar a terra, eles tinham de prestar serviços e pagar uma série de tributos. Entre as principais obrigações servis estavam a corveia, trabalho gratuito; a talha, porcentagem da produção dada ao senhor; e a banalidade, pagamento pela utilização de instrumentos ou benfeitorias do feudo.

Além dos servos, havia, em menor número, outros tipos de trabalhador: os vilões, habitantes das vilas, trabalhadores livres ligados a um senhor; e os pequenos proprietários, que usavam mão de obra familiar.

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As Cruzadas

A partir do século XI, o sistema feudal começou a passar por intensas transformações. Se por um lado o fim das invasões bárbaras proporcionou uma maior estabilidade na Europa, por outro gerou um aumento populacional que comprometeu a autossuficiência dos feudos. Como havia mais homens para pouca terra, a população excedente foi expulsa em direção às cidades, que estavam praticamente abandonadas durante o auge do feudalismo.

Esse era o cenário no início da Baixa Idade Média, quando a Igreja e os nobres europeus empreenderam uma série de expedições militares, entre os séculos XI e XIII, que ficaram conhecidas como Cruzadas. Formalmente, tinham um objetivo religioso: retomar a cidade de Jerusalém, considerada sagrada pelos cristãos, que fora dominada pelos turcos muçulmanos em 1071. A expansão da fé católica também era fundamental para a Igreja manter seu poder, que começava a ser contestado na Europa. Sem condições de sobreviver em um espaço onde não existia uma atividade econômica que a absorvesse, a população passou a questionar os conceitos pregados pela Igreja de que tudo na Terra era representação da vontade de Deus.

Porém, várias outras motivações podem ser apontadas para a organização das expedições. A necessidade de escoar a população excedente e encontrar uma atividade que absorvesse esse excedente pode ser entendida como motivação social para o movimento cruzadista. Economicamente, as expedições abriam a possibilidade de expansão dos negócios a partir do restabelecimento de uma rota comercial com o Oriente a partir do Mar Mediterrâneo. Já do ponto de vista político, a conquista de novos territórios garantiria aos reis a possibilidade de aumentar seu poder em um período que as estruturas descentralizadas do feudalismo começavam a ruir.

Dessa forma, em 1095, o papa Urbano II, no Concílio de Clermont, convocou as Cruzadas, prometendo a salvação para todos aqueles que lutassem e/ou morressem na “guerra santa” contra os pagãos – neste caso, os muçulmanos. Para a população, a oportunidade representava uma dupla vantagem: além de ter seus pecados perdoados, havia a possibilidade de, por meio de saques às cidades orientais, reduzir seus problemas econômicos. Entre 1096 e 1280 foram organizadas, oficialmente, nove Cruzadas (veja as principais no mapa acima).

Entre as expedições, destaca-se a Quarta Cruzada, também chamada de Cruzada Comercial. Realizada entre 1202 e 1204, ela foi financiada por comerciantes de Veneza e tinha princípios diferentes dos das missões anteriores. O objetivo era a tomada de Constantinopla, que abrigava o principal porto comercial do Mar Mediterrâneo. A empreitada foi bem-sucedida com a conquista de Constantinopla e a reabertura da rota comercial entre o Oriente e o Ocidente. Anteriormente dominada pelos muçulmanos, ela passou ao controle dos comerciantes de Veneza.

 

Renascimento comercial e urbano

Com a reabertura do Mediterrâneo ao comércio, estabeleceram-se rotas ligando regiões produtoras – como Flandres (atualmente Bélgica e Holanda), famosa por sua lã – e as cidades portuárias italianas que controlavam o contato com o Oriente – Veneza e Gênova. Nos cruzamentos dessas novas rotas foram organizados centros de comércio temporários. Eram as feiras, que reuniam mercadores de diversas partes da Europa.

Para se protegerem de assaltos, os mercadores passaram a se estabelecer ao redor de palácios e mosteiros, formando os burgos (de onde vem o termo burguês). Com o tempo, esses núcleos cresceram, e foram erguidas novas muralhas a seu redor. Constituíam-se, assim, as cidades. No entanto, por viverem em áreas ainda pertencentes aos feudos, os burgueses eram obrigados a pagar impostos aos senhores. A luta pela independência urbana ficou conhecida como movimento comunal, e a emancipação era garantida pelas cartas de franquia, documento que assegurava às cidades direitos como cobrar impostos e montar milícia. Livres da tutela feudal, as novas cidades se organizaram em ligas (ou hansas), para agilizar o comércio e congregar interesses. A mais importante foi a Liga Teutônica (ou Hanseática).

Dentro das cidades, os burgueses também se organizaram em corporações. As mais conhecidas foram as corporações de mercadores, ou guildas, que limitavam o comércio estrangeiro e controlavam os preços, e as corporações de ofício, que agrupavam artesãos – com o objetivo de impedir a concorrência de quem produzisse o mesmo artigo. Na hierarquia das corporações de ofício, os mestres eram os proprietários das oficinas e donos das ferramentas. Cabia-lhes estipular salários e normas de trabalho. Abaixo deles estavam os oficiais, trabalhadores especialistas remunerados, e, por último, os aprendizes, jovens que recebiam roupas, alimento e moradia em troca de trabalho.

 

Crise do feudalismo

Um dos primeiros sintomas da crise do sistema feudal foram as revoltas camponesas. A partir de 1358, começando pela região de Flandres, espalharam-se pela Europa. A causa principal foi a queda da produtividade da agricultura entre os séculos XI e XIV, que, junto com o crescimento da população e a resistência da nobreza em reduzir a parte do excedente que lhe cabia, provocou a fome entre os camponeses. Na França, receberam o nome de jacquerie. Castelos foram queimados, e nobres, assassinados. A nobreza contra-atacou, executando mais de 20 mil pessoas. Sublevações também ocorreram na Inglaterra e no norte da Itália.

Além das revoltas, a peste negra chegou à Europa em 1347 pelo porto de Gênova. A epidemia, altamente infecciosa, foi transmitida ao homem pela pulga do rato (o que não se sabia na época). Espalhou-se com grande velocidade e provocou a morte de quase metade da população europeia.

Além desses fatores, a guerra também atingiu a Europa nesse período. A pretensão do rei inglês Eduardo III de disputar a sucessão do trono francês provocou a Guerra dos Cem Anos, entre França e Inglaterra. No decorrer do conflito, destaca-se a camponesa mística Joana d’Arc (1412-1431), que alegava receber mensagens divinas desde criança. Sob sua inspiração, as tropas francesas conquistaram importantes vitórias, e ela se tornou heroína nacional.

Capturada pelos ingleses, Joana d’Arc foi acusada de bruxaria e condenada a morrer na fogueira, vítima da Inquisição. A guerra terminou em 1453, quando a França recuperou todas as possessões sob o domínio inglês, venceu a guerra e, assim, preservou sua soberania nacional.

As principais consequências da crise feudal foram o enfraquecimento da nobreza e a flexibilização das relações de servidão. Depois do conflito, muito do poder associado à nobreza foi transferido aos reis, fragilizando as relações feudo-vassálicas e praticamente pondo fim ao sistema feudal.

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O Império Turco-Otomano

A região que faz a ligação entre a Ásia e a Europa, conhecida como Ásia Menor ou Anatólia, vivia um período caótico no século XIII.  Enquanto as Cruzadas atravessavam a região em direção de Jerusalém, o Império Bizantino, que ocupava boa parte da região, estava em franco declínio.

Vindo do atual Cazaquistão, um grupo de turcos nômades aproveitou a situação para assumir o controle da região. Sob a liderança de  Ertogrul foi criada uma dinastia na qual o sultão é o chefe civil, militar e religioso. Em 1281, Otman I deu início à expansão turca e emprestou seu nome ao império. Ele e os sucessores uniram os turcos da Anatólia num Estado militarista, que travou uma guerra santa contra o  Império Bizantino e os cristãos dos Bálcãs.

Por volta de 1400, os domínios do Império Otomano já se estendiam do Rio Danúbio ao Eufrates. Em 1453, coube a Maomé II, o  Conquistador, liderar os otomanos em seu maior feito: colocar um fim aos 1.100 anos do Império Bizantino com a tomada de Constantinopla.

A conquista de Constantinopla é tão simbólica que os historiadores a consideram o marco final da Idade Média e o início da Idade Moderna. O feito do Império Turco-Otomano mudou as relações de poder no Mediterrâneo. Os turcos bloquearam as rotas entre a Europa e a Ásia, que passavam pelo Egito e Mar Vermelho ou pelo Oriente Médio. Com isso, provocaram grandes prejuízos ao comércio na Europa, levando os europeus a procurar novos caminhos para a Ásia pelo Oceano Atlântico, o que impulsionou fortemente as grandes navegações.

No século XVI, sob a liderança de Solimão I, o Magnífico, o Império conquistou as áreas entre o Mar Vermelho e a Bósnia, alcançando sua maior extensão. Mas no século XVII veio a crise. O Império começou a se fragmentar em 1800 até ser abolido em 1922, como consequência dos conflitos da I Guerra Mundial.

 

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