Idade Contemporânea: Descolonização afro-asiática
AINDA QUE TARDIA Multidão em Argel comemora a independência da Argélia, em 1962. No centro da imagem, um retrato de Ben Bella, herói da insurreição
Baby boom de nações
Após a II Guerra Mundial, uma onda de independências na África e na Ásia deu origem a dezenas de novos países
O processo de independência das antigas colônias europeias na África e na Ásia, ocorrido após a II Guerra Mundial, foi impulsionado pelo enfraquecimento das nações imperialistas da Europa durante a II Guerra, pelo interesse de Estados Unidos (EUA) e União Soviética (URSS) em transformar os territórios coloniais europeus em suas zonas de influência e pelo surgimento de movimentos nacionalistas nas colônias.
Ásia
Dois processos distintos marcaram a descolonização asiática: a resistência pacífica, na Índia, e a guerra pela independência, cujo melhor exemplo é a Indochina.
Na Índia, o advogado Mohandas Gandhi, o Mahatma (Grande Alma), desencadeou um amplo movimento de resistência pacífica e desobediência civil, pregando o boicote aos produtos da metrópole inglesa e o não pagamento de impostos. Abalado pela II Guerra, o Reino Unido viu-se obrigado a conceder a independência, em 1947. A ex-colônia foi dividida na União Indiana, de maioria hindu, e no Paquistão, majoritariamente muçulmano. A separação levou a um intenso movimento migratório e a violentas lutas entre os grupos religiosos, deixando milhares de mortos.
A Indochina, antiga colônia francesa formada por Vietnã, Laos e Camboja, foi invadida pelo Japão na II Guerra Mundial. Após a rendição japonesa, o movimento nacionalista Vietminh, liderado pelo comunista Ho Chi Minh, proclamou a independência do Vietnã. A tentativa da França de retomar o domínio levou à Guerra da Indochina (1946-1954). Os europeus foram derrotados, e os países obtiveram a independência. O Vietnã ficou dividido em Vietnã do Norte e Vietnã do Sul, que só seriam reunificados em 1976, após a Guerra do Vietnã.
África
A maioria dos países africanos conquistou a independência na década de 1960. Três dos processos mais conturbados ocorreram na Argélia, no Congo e em Angola.
A guerra da independência da Argélia, colônia francesa, durou de 1954 a 1962, deixando mais de 1 milhão de mortos. O conflito resultou em uma crise política na França, que culminou com a queda do governo e a tomada da presidência pelo herói da II Guerra Mundial Charles de Gaulle, em 1958. Quatro anos depois, ele negociou a paz.
Na República Democrática do Congo, colônia belga, a independência foi proclamada em 1960, por Patrice Lumumba, que assumiu o governo. A reação das multinacionais belgas à sua administração levou a uma guerra civil com intervenções da Bélgica e da URSS. Lumumba foi assassinado em 1961. Em 1965, num golpe de Estado apoiado pelos EUA, o general Joseph Mobutu instalou uma sangrenta ditadura.
As colônias portuguesas levaram mais tempo para obter a independência. As negociações só ocorreram no fim do regime salazarista, em 1974. O caso mais violento foi o de Angola: a partir de 1975, a luta pela independência virou uma guerra civil, finalizada em 2002 com 1 milhão de mortos.
O REGIME DO APARTHEID NA ÁFRICA DO SUL
Entre 1948 e 1992, o apartheid – política de segregação racial na África do Sul – impediu o acesso dos negros à propriedade da terra e à participação política, confinando-os em territórios tribais – os bantustões. A perseguição política fez milhares de vítimas, incluindo Nelson Mandela, preso em 1962. Ele só seria libertado em 1990 e, dois anos depois, a África do Sul pôs fim ao apartheid. Em 1994, Mandela venceu a primeira eleição presidencial multirracial do país.