A vírgula é, de longe, o sinal de pontuação que mais confunde a cabeça das pessoas. Dependendo de como ela é usada, pode mudar completamente o sentido de uma frase. Um exemplo famoso:
– Não, espere.
– Não espere.
Com vírgula, é um pedido para esperar. Sem vírgula, para que vá embora. Olha só! Uma vírgula pode até salvar um relacionamento ou destruí-lo. Perigoso, hein? 😉
Depois de ler o resumo do GUIA DO ESTUDANTE com algumas regrinhas do bom uso da vírgula, vale a pena conferir 3 fatos sobre o sinal de pontuação que você talvez não conheça! Vamos lá:
– A vírgula não existe para marcar pausas
No livro Guia Prático do Português Correto, o professor Cláudio Moreno explica que a pontuação baseada nas pausas tem origem na Idade Média. Naquela época, o hábito da leitura silenciosa ainda não era uma prática muito comum. O normal mesmo era ler em voz alta, e os sinais de pontuação serviam, por isso, para marcar as pausas e as entonações. Essa norma durou por muitos séculos e vigorou, ao menos no Brasil, até a década de 1960. Se você está no ensino médio agora, a chance de seus pais e avós terem aprendido ainda nesse modelo é grande.
Até por isso, muitas pessoas acabam separando o sujeito do predicado com a vírgula porque entendem que ali está uma pausa. Leia as frases a seguir em voz alta e tente identificar o local em que elas farão uma pausa mais marcada:
– Os quatro jogadores da Seleção Brasileira# chegaram ontem aos Estados Unidos.
– A janela, a porta e a geladeira# foram compradas na loja do meu tio.
A chance de o “respiro” cair onde estão marcados os # é grande (exatamente na divisão entre sujeito e predicado). Como vocês vão ler no próximo ponto, a função da vírgula hoje é bem diferente. Assim como as outras pontuações, ela é usada para orientador o leitor na interpretação do que está escrito.
– Colocar vírgula entre sujeito e predicado é proibido? Não é bem assim…
Ao contrário da acentuação e da ortografia, em vez de regras, a pontuação tem um princípio fundamental: ajudar o leitor a processar de forma rápida e correta o que está escrito. Desse princípio surgiram diversos procedimentos que a prática (e não a regra acadêmica) veio refinando ao longo do tempo. A recomendação é que os sinais sejam usados apenas nos locais em que o leitor precise ser avisado de que algo diferente está acontecendo. Isso faz com que ele não perca o fio da meada e tenha uma leitura fluída do texto. Não se recomenda colocar vírgula entre sujeito e predicado ou entre o verbo e seus complementos porque isso só serviria para atrapalhar a leitura.
No entanto, existem algumas exceções que permitem o uso da vírgula quando a intenção é facilitar o entendimento da frase (lembre-se do princípio fundamental!). Por exemplo, quando o sujeito é oracional (representado por uma oração subordinada substantiva). Muitos escritores usam uma vírgula para marcar com mais clareza o fim do bloco do sujeito. O professor Moreno relembra alguns exemplos presentes nas narrativas de Machado de Assis. O escritor realista usa tanto com vírgula (“Quem perde uma das metades, perde naturalmente metade da existência”), como sem (“Quem não viu aquilo não viu nada”).
Outro motivo para usar uma vírgula entre o suj/pred é evitar interpretações incorretas. Veja o exemplo abaixo:
– A pessoa que não lê mal ouve, mal fala, mal vê. (sem a vírgula depois do sujeito – marcado em negrito – existirão leitores que poderão interpretar como “a pessoa que não lê mal”. Colocando a vírgula esse problema desaparece).
– Existem 3 situações em que a vírgula antes do “e” é permitida
1 – Quando o “e” liga duas orações cujos sujeitos são diferentes
Ex:
Eu comi o bolo, e Dona Maria foi rezar na igreja. (“Eu” é o sujeito da primeira oração e “Dona Maria” o sujeito da segunda oração)
2 – Quando o “e” introduz a sequência de várias orações ou termos
Ex:
O rapaz se oferece, e pede, e argumenta; a moça vacila, e pensa…
Preciso comprar farinha, e arroz, e feijão, e mandioca.
3 – Quando o “e” integra a expressão “e sim” (com o sentido de “mas”)
Ex:
Ele não era propriamente um amigo, e sim um falso colega. (Ele não era propriamente um amigo, mas um falso colega)
Consultoria:
Guia Prático do Português Correto – Vol. 4 , Pontuação
Cláudio Moreno
Ed. L&PM Pocket
Escreva Certo
Édison de Oliveira e Maria Elyse Bernd
Ed. L&PM Pocket