Por Jornal da USP
O canteiro de obras do Museu do Ipiranga se transformou em um sítio de monitoramento arqueológico. Em escavações na área externa do museu, uma equipe de arqueólogos encontrou ossos, fragmentos de porcelana e objetos de uso pessoal. Em parceria com a Scientia Consultoria Científica, os achados de outras épocas são analisados e divulgados em série de postagens nas redes sociais do museu.
A série foi inaugurada por uma curiosa dentadura, da primeira metade do século 20, que incluía um dente com restauração em ouro, para disfarçar o uso da prótese. Ela foi encontrada durante o processo de remoção de árvores do jardim para replantio.
De acordo com a publicação, uma câmara de vácuo pode ser observada na região do encaixe com o palato, recurso utilizado para ajudar na fixação. Com o tempo, observou-se que isso causava uma hiperplasia no céu da boca, e na segunda metade do século 20, outras técnicas passaram a ser utilizadas.
Entre os achados das escavações na área externa do novo Museu do Ipiranga, ossos de animais foram exumados pela Scientia Consultoria Científica: são pedaços de crânio, pélvis e pés de rês (vaca ou boi) com marcas de cortes retos, realizados com instrumentos de metal; um fragmento de mandíbula que pode ter pertencido a um gato e dentes de porco doméstico.
Também foram encontrados fragmentos de pratos, xícaras e potes de porcelana. A consultoria científica identificou que o conjunto data do fim do século 19 e início do 20. Um deles parece ser o fundo de um prato raso, com o registro Société Céramique Maestrich, marca holandesa de 1859. Também foi identificado um pedaço de prato produzido na Fábrica de Louças Santa Catharina (FSC), uma das primeiras do país.
Quanto valem 200 réis? O canteiro de obras do museu revelou duas moedas que, dependendo da época, equivaleriam de R$ 2,50 até R$ 10. A mais antiga, cunhada na Europa, chegou às ruas no fim de 1901. A outra, comemorativa, é da segunda metade da década de 1930. De um lado, tem uma locomotiva sobre trilhos; do outro, o busto de Visconde de Mauá (foto), industrial que criou a 1ª via férrea do País, em 1854, o que lhe rendeu seu primeiro título de nobreza, o de Barão.
Durante o acompanhamento das escavações realizadas na área verde do Museu do Ipiranga foram identificados vários fragmentos de vidros, provavelmente do período entre o final do século 19 e o início do século 20. Um deles é um fragmento de uma garrafa de vidro com a inscrição “Labor omnia V”. A consultoria acredita que se trata de um frasco de medicamento importado. O produto da empresa Caswell Mack & Co., Chemists New York & Newport, utilizava em algumas de suas embalagens a frase latina que significa “O trabalho vence tudo”.
Este cachimbo de barro foi encontrado no contrapiso do Museu do Ipiranga e, de acordo com análises, provavelmente seja uma peça importada dos Estados Unidos. No entanto, não foi possível identificar um fabricante específico e nem se descarta a possibilidade de influências estilísticas dos cachimbos estrangeiros na produção brasileira.
Embora se tenha indícios sobre a origem da fabricação do cachimbo, a equipe responsável pelo monitoramento e análise dos achados arqueológicos se pergunta: como a peça foi parar no contrapiso do museu? Teria pertencido a algum operário que o esqueceu durante as obras ou seria uma peça perdida do acervo do museu?
O Museu do Ipiranga – mais antigo museu da cidade de São Paulo – passa por obras de restauração, ampliação e modernização, e segue fechado para visitação pública desde 2013. A previsão de reabertura é em setembro de 2022, para a celebração do bicentenário da Independência do Brasil.
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