A cantora Olivia Rodrigo, de apenas 21 anos, soltou a voz não apenas para cantar na GUTS Tour, sua turnê mundial, mas também para falar sobre a saúde reprodutiva das mulheres nos Estados Unidos. A cantora fundou a Fund 4 Good para conscientizar sobre os direitos reprodutivos das mulheres e, com auxílio de organizações sem fins lucrativos do país, estava distribuindo camisinhas, pílulas do dia seguinte e folhetos com informações sobre aborto e educação sexual em seus shows. Com a repercussão na imprensa e a reação dos grupos conservadores, a ação acabou barrada.
Vale lembrar que o aborto era legalizado nos Estados Unidos até 2022, quando a lei foi revogada e o tema voltou a ser debatido. Hoje, ele é proibido em 14 dos 50 estados do país.
Neste texto, o GUIA DO ESTUDANTE te explica para que serve a educação sexual e por que privar os jovens dessas informações é prejudicial.
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Educação sexual: para quê e para quem
Ao contrário do que acontece em muitas escolas, educação sexual não se resume a aulas sobre sistema reprodutivo. Também não são aulas que incentivam uma vida sexual ativa precoce, como afirmam alguns grupos.
De acordo com o Guia Internacional Técnico de Educação Sexual, elaborado pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) em conjunto com outras organizações, a educação sexual é um direito humano e deve ser garantido.
“Tem por objetivo transmitir conhecimentos, habilidades, atitudes e valores a crianças, adolescentes e jovens de forma a fornecer-lhes autonomia para: garantir a própria saúde, bem-estar e dignidade; desenvolver relacionamentos sociais e sexuais de respeito; considerar como suas escolhas afetam o bem-estar próprio e o de outras pessoas; entender e garantir a proteção de seus direitos ao longo de toda a vida.”
Na prática, é falar de maneira aberta sobre temas como consentimento, responsabilidade sobre seu corpo e o do outro, identidade, violência, gravidez indesejada ou precoce, e a infecção por doenças sexualmente transmissíveis. É um processo que pode ajudar no processo de descoberta e amadurecimento do adolescente.
Apesar de falar sobre sexo com adolescentes ainda ser um tabu, existe uma razão para este ser o público-alvo da educação sexual.
Dados coletados pelo SUS (Sistema Único de Saúde) em 2023 mostraram que nascem 44 bebês de mães adolescentes no Brasil por hora. Dessas, 2 tem idade entre 10 e 14 anos. Os dados preocupam porque a vida sexual abaixo de 14 anos é considerada estupro de vulnerável.
De acordo com a OMS, a gravidez na adolescência é categorizada assim quando acontece até os 20 anos de idade, sendo apontada como uma gestação de alto risco tanto para a mãe quanto para o bebê. Tem consequências que vão desde a evasão escolar da menina até a morte.
Com acesso à educação sexual, estas adolescentes teriam conhecimento adequado sobre métodos contraceptivos e como usar cada um deles, podendo se proteger. Além disso, também aprenderiam a identificar situações de abuso e os caminhos para denunciar.
Para completar, o cenário de ISTs (Infecções Sexualmente Transmissíveis) também preocupa. Dados da UNAIDS mostram que entre 2020 e 2022, o número de casos de infecção por HIV aumentou 17,2% no Brasil. Em 2021, o ranking entre os estados brasileiros referente às taxas de detecção de aids mostrou que os estados do Amazonas, Roraima, Amapá, Pará e Rio Grande do Sul apresentaram os maiores números, sendo o maior 39,7 no Amazonas e o menor 24,3 no Rio Grande do Sul.
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Onde deveria acontecer a educação sexual
A educação sexual deve ser ofertada em um ambiente seguro para o jovem, e por isso a escola é apontada como o ambiente mais adequado. Está se perguntando por que não deixar a tarefa a cargo dos pais, em casa?
O Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2023 indicou uma explosão no número de estupro de vulneráveis, com 74.930 vítimas. Na maioria dos casos (64,4% dos casos), os autores da violência são familiares – ou seja, estão dentro de casa.
Por fim, vale derrubar um último mito em torno da educação sexual: ao contrário do que muitos acreditam, ela pode na verdade retardar o início da vida sexual de adolescentes. Em entrevista ao Estado de S. Paulo, Ana Carolina C D’Agostini, pedagoga especialista em Psicologia nos Cuidados da Saúde da Mulher pela UNIFESP e coordenadora de formação do Instituto Ame sua Mente, afirmou que os adolescentes que passam pela educação sexual tendem a retardar a prática – o que consequentemente diminui a taxa de gravidez indesejada e contração de doenças sexualmente transmissíveis entre esta população.
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