Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Continua após publicidade

O legado de Salles e o futuro do meio ambiente 

Destruição ambiental dos últimos anos trará consequências graves ao Brasil – e queda do ministro não significa uma nova política ambiental 

Por Danilo Thomaz
Atualizado em 25 jun 2021, 18h34 - Publicado em 25 jun 2021, 12h47

Numa atitude que surpreendeu mesmo a membros do Governo Federal, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, pediu demissão do cargo na tarde desta quarta-feira (23). O agora ex-ministro é alvo de inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) por suposto favorecimento de madeireiras por meio da modificação de regras com o objetivo de regularizar cargas apreendidas no exterior. O inquérito decorre de uma investigação da Polícia Federal. O delegado Alexandre Saraiva, que o denunciou ao STF, foi retirado da chefia do Amazonas pelo diretor geral da PF, Paulo Maiurino. 

O delegado denunciou o ex-ministro por “causar obstáculos à investigação de crimes ambientais e de buscar patrocínio de interesses privados e ilegítimos perante a Administração Pública” e afirmou, em referência à clássica declaração de Salles, que não deixaria “passar a boiada”. 

A demissão do ministro foi celebrada nas redes sociais. No entanto, o desastre ambiental dos últimos anos não é desprezível e há uma série de riscos e incertezas no horizonte. Vamos entender melhor tudo isso. 

Recorde de desmatamento 

Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Especiais (INPE), vinculado ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), o desmatamento da Amazônia “entre o período de 1 de agosto de 2019 e 31 de julho de 2020 foi de 10.851 km2. O valor representa “um aumento de 7,13% em relação a taxa de desmatamento apurada pelo PRODES em 2019 que foi de 10,129 km2 para os nove estados” da Amazônia Legal. Entre 2018 e 2019, o aumento foi de 34,41%.   

Os meses de março e abril de 2021 foram, por sua vez, os de maior desmatamento desde o início da série histórica, em 2015. Somente em abril foram destruídos 580 Km2 de floresta, um aumento de 43% em relação ao mesmo período de 2020. O ano passado foi também marcado pelas queimadas no Pantanal, que consumiram 20% de seu bioma, o pior índice da história. 

Continua após a publicidade

Perseguições e desmonte 

Além do aumento do desmatamento e queimadas, há o desmonte por parte do governo federal dos órgãos de Estado ligados ao combate e fiscalização do problema. É o caso, por exemplo, do Ibama 

Em agosto de 2019, o diretor do INPE, Ricardo Galvão, deixou o governo. O físico vinha sendo alvo de difamações e pressões do ex-ministro e de Jair Bolsonaro em razão dos dados de aumento de desmatamento divulgados pelo instituto. Ante a contestação dos dados, Galvão relatou em entrevista ao podcast Fumaça, de Portugal, que pediu “por duas vezes” ao Ministério do Meio Ambiente – órgão ao qual está subordinado o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) – que enviasse os dados que contradiziam com os do INPE (dependente do Ministério da Ciência). “Ele disse que não o fez porque os dados não tinham sido elaborados pelo Ministério do Meio Ambiente, mas tinham sido elaborados pela empresa Planet [empresa dos Estados Unidos da América, que realiza medições espaciais por satélites], ‘gratuitamente’, para mostrar o sistema deles, como funcionava”, afirmou Galvão. 

Mesmo sem Salles a situação não deve mudar. Um exemplo de que a destruição ambiental e o desmonte dos órgãos de Estado – que se estende a outras áreas, no judiciário, na saúde, na cultura e na educação – é a inação do Conselho da Amazônia, presidido pelo vice-presidente Hamilton Mourão. 

Outro ponto grave – que indica que as coisas não só não devem mudar, como podem piorar – foi a aprovação ontem do PL 490/2007, na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, que prevê severas restrições à demarcação de terras indígenas. O PL tem apoio do agronegócio, de setores do governo e da direita.  

Continua após a publicidade

 Risco de desertificação 

Além do Governo Federal, o tempo é inimigo da Amazônia. De acordo com o climatologista Carlos Nobre, uma das principais autoridades mundiais na questão do desmatamento, se o desmatamento não for zerado até, no máximo, 2030, a região pode chegar a um ponto de não retorno e desertificar-se, causando sérias consequências climáticas, econômicas e sanitárias. 

 Crise hídrica 

desmatamento é apontado como um dos responsáveis pela crise hídrica de 2021, que tem gerado risco de racionamento de energia. Isso porque a floresta amazônica exerce um papel fundamental no fluxo de umidade que leva as chuvas ao Centro-Oeste e ao Sudeste. 

Continua após a publicidade

Risco de pandemias 

De acordo com a médica espanhola María Neira, diretora de Saúde Pública e Meio Ambiente da Organização Mundial de Saúde, “cerca de 70% dos últimos surtos epidêmicos que sofremos têm sua origem no desmatamento e nessa ruptura violenta com os ecossistemas e suas espécies” 

De acordo com o cientista Christovam Barcellos, da Fiocruz, o aumento dos desmatamentos e queimadas, somado à alta circulação de pessoas na região, pode tornar o Brasil o epicentro de uma nova pandemia. “A gente não tem muito domínio sobre o que está acontecendo na Amazônia e [sobre] a quantidade de animais e micro-organismos que existem lá. Alguns desses microrganismos podem fazer esse salto ecológico e alcançar as populações humanas.” 

Continua após a publicidade

 

Publicidade
Publicidade
O legado de Salles e o futuro do meio ambiente 
Atualidades
O legado de Salles e o futuro do meio ambiente 
Destruição ambiental dos últimos anos trará consequências graves ao Brasil – e queda do ministro não significa uma nova política ambiental 

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Plano Anual
Plano Anual

Acesso ilimitado a todo conteúdo exclusivo do site

a partir de 5,99/mês*

BLACK
FRIDAY
Plano Mensal
Plano Mensal

R$ 19,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.