Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Continua após publicidade

Aporofobia: a aversão aos pobres e seus efeitos na sociedade

O preconceito pode se refletir na arquitetura hostil de espaços públicos e até em campanhas contra a doação de esmolas

Por Julia Di Spagna
Atualizado em 4 abr 2023, 17h26 - Publicado em 29 mar 2023, 10h50

Aporofobia é um termo que tem aparecido cada vez mais no debate público, impactando, inclusive, a legislação. E sim, estudante: também já foi explorado no vestibular. Mas você sabe o que ele significa e como afeta a sociedade? 

A palavra aporofobia significa aversão, medo, desprezo ou rejeição aos pobres. De origem grega, é um neologismo e deriva da junção das palavras á-poros (pobres) e fobos (medo) –  é a mesma lógica de outros preconceitos, como homofobia ou islamofobia. O termo foi criado por volta dos anos 1990 pela escritora e filósofa espanhola Adela Cortina.

Em entrevista à BBC Mundo em 2020, Cortina explicou que a aporofobia sempre existiu e está nas “entranhas do ser humano”. Isso porque, para ela, o problema é biocultural. A origem biológica se explica pela tendência humana, comprovada pela antropologia evolutiva, de priorizar as relações e pessoas que nos ofereçam algo em troca. Quem não tem nada a oferecer em termos práticos – como seria o caso da população em situação de rua, por exemplo – é instintivamente deixado de lado.

É claro que essa tendência não é imutável: ela pode, de acordo com a filósofa, ser reforçada ou deixada de lado pela cultura. O problema é que vivemos em uma sociedade cujos valores promovem, mais do que nunca, a rejeição aos pobres.

+ 15 documentários para debater racismo, machismo, islamofobia e LGBTfobia

Padre Júlio Lancellotti contra a aporofobia

Só recentemente o termo “aporofobia” ganhou destaque e passou a ser discutido no Brasil, principalmente pela atuação do padre Júlio Lancellotti, da Pastoral do Povo da Rua, de São Paulo.

Continua após a publicidade

O padre é um dos maiores nomes contra a prática e entre suas principais críticas está a arquitetura hostil de espaços públicos que impede ou dificulta a permanência, a passagem e o descanso de pessoas em situação de rua. Seja por meio de grades, pedras ou diversos tipos de estrutura, muitos condomínios residenciais, prédios e estabelecimentos comerciais, como restaurantes e bares, criam barreiras que buscam afastar essa população.

O religioso já denunciou em suas redes sociais uma série de construções que se encaixam nesse perfil.

Um dos casos que mais viralizou foi o das pedras instaladas pela Prefeitura de São Paulo embaixo de um viaduto na zona leste da capital, que impedia que pessoas colocassem colchões ou papelões para dormir na área. Lancellotti foi até o local e quebrou parte das pedras como forma de protesto.

View this post on Instagram

A post shared by Julio Renato Lancellotti (@padrejulio.lancellotti)

Continua após a publicidade

 

 

Segundo Lancellotti, é fundamental que haja um programa governamental que garanta moradia para os mais pobres. “Não queremos que as pessoas fiquem nesses locais, mas sim que exista uma resposta humanizadora de acolhimento. Temos que sair da hostilidade para a hospitalidade”, disse o padre em entrevista ao portal ECOA, do Uol.

E vale destacar que não é só por meio da arquitetura que a aporofobia se manifesta. Campanhas voltadas para que pessoas não deem esmola ou façam doações diretas aos mais pobres também são uma forma de propagar a prática. Muitas vezes promovidas por prefeituras, essas campanhas defendem que a ajuda financeira aumentaria o “comodismo” e impediria que os mais vulneráveis economicamente lutassem por condições melhores. Mas Lancellotti também rebate:

“Ninguém pode acreditar que a população de rua aumenta porque aumentou as esmolas, que a esmola é tão rentável que mantém as pessoas na rua. Quem dá esmola é o poder público. O orçamento para a Saúde, a Habitação Pública e a Assistência Social que é uma esmola vergonhosa, que não consegue dar subsistência aos que mais precisam”, afirmou em entrevista ao G1.

Aporofobia na legislação e as soluções para o problema

Em dezembro de 2022, foi promulgada a lei que proíbe construções que visem afastar pessoas em situação de rua de espaços públicos. Em outras palavras, a chamada Lei Padre Júlio Lancellotti define que está proibido “o emprego de materiais, estruturas equipamentos e técnicas construtivas hostis que tenham como objetivo ou resultado o afastamento de pessoas em situação de rua, idosos, jovens e outros segmentos da população.”

Continua após a publicidade

Além disso, a lei 14.489, de 2022, altera o Estatuto da Cidade (Lei 10.257, de 2001) e estabelece o “conforto, abrigo, descanso, bem-estar e acessibilidade na fruição de espaços livres de uso público, seu mobiliário e interfaces com espaços de uso privado.”

Nos vestibulares

Por ser algo atual e relevante para a sociedade, o tema pode aparecer nas provas, tanto em propostas de redação quanto em questões.

Foi o que aconteceu na segunda fase da Unicamp 2023. A questão 5 explorou o significado de aporofobia, trazendo uma reportagem com falas de Júlio Lancellotti e imagens que denunciavam a prática. Confira abaixo:

questão unicamp
(Anglo Resolve/Reprodução)
Continua após a publicidade

Para se aprofundar

Compartilhe essa matéria via:

 Prepare-se para o Enem sem sair de casa. Assine o Curso PASSEI! do GUIA DO ESTUDANTE e tenha acesso a todas as provas do Enem para fazer online e mais de 180 videoaulas com professores do Poliedro, recordista de aprovação nas universidades mais concorridas do país. 

Publicidade
Publicidade
Aporofobia: a aversão aos pobres e seus efeitos na sociedade
Atualidades
Aporofobia: a aversão aos pobres e seus efeitos na sociedade
O preconceito pode se refletir na arquitetura hostil de espaços públicos e até em campanhas contra a doação de esmolas

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Plano Anual
Plano Anual

Acesso ilimitado a todo conteúdo exclusivo do site

a partir de 5,99/mês*

BLACK
FRIDAY
Plano Mensal
Plano Mensal

R$ 19,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.