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5 assuntos sobre cultura que podem aparecer no vestibular

Discussões envolvendo atualidades como o Oscar 2022, Centenário da Semana de Arte e a Lei Paulo Gustavo podem ser tema de redação

Por Juliana Morales
Atualizado em 20 Maio 2022, 18h44 - Publicado em 11 Maio 2022, 17h54

O mundo da cultura e das artes merece aplausos, mas também muita atenção. Grandes discussões, desde liberdade de expressão até falta de investimento, rodeiam o campo artístico e trazem consequências à sociedade em geral. Como estudante, vale a pena ficar a par desses debates, que têm grandes chances de aparecerem em propostas de redação.

Thiago Braga, professor e autor do Sistema de Ensino pH, conversou com o GUIA DO ESTUDANTE e elencou cinco temáticas relacionadas à cultura que são apostas para o vestibular. Confira alguns eventos importantes que podem servir de gancho para as bancas e como elas podem tratar cada um dos temas.

Limites do humor e liberdade de expressão

Braga afirma que a discussão sobre os limites do humor – uma aposta para o Enem e outros vestibulares já em anos anteriores – ganhou muita repercussão diante do embate que aconteceu no Oscar 2022.

Para relembrar, durante a premiação deste ano, Chris Rock, que estava conduzindo a cerimônia, fez uma piada sobre a aparência de Jada Pinkett Smith. A atriz e esposa de Will Smith convive com a doença autoimune alopecia, que causa queda de cabelo. O comediante a chamou de “G.I. Jane 2”, fazendo referência ao filme Até o Limite da Honra (1997), em que Demi Moore aparece careca. Smith, então, subiu no palco e deu um tapa na cara do humorista. Após a agressão, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas decidiu banir o ator da premiação por 10 anos.

Além da sua atualidade e relevância, o professor destaca que o tema do humor também permite um desdobramento para uma discussão central da sociedade contemporânea: a liberdade de expressão. Nessa linha, Braga também destaca a compra do Twitter por Elon Musk. O bilionário, que adquiriu a rede social recentemente, disse que pretende ampliar o espaço para liberdade de expressão.

Musk, inclusive, manifestou interesse em suspender a proibição ao ex-presidente americano, Donald Trump, de usar a rede. Trump foi banido permanentemente no contexto do ataque ao Capitólio em janeiro de 2021, em decisão unânime das principais redes sociais. De acordo com a avaliação das plataformas, o ex-presidente estimulou o ataque.

+ Tema de redação: fake news e os limites da liberdade de expressão

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Desvalorização da arte

Outro assunto destacado pelo professor é a desvalorização da arte enquanto elemento promotor de reflexão e do desenvolvimento da sociedade brasileira como um todo. Como aponta um levantamento do Ministério da Economia, o setor de atividades artísticas, criativas e de espetáculos foi o mais afetado pelas ações de combate à pandemia.

Em 2021, um projeto de lei, conhecido como Lei Paulo Gustavo, propôs o repasse de R$ 3,8 bilhões para o enfrentamento desses efeitos da crise sanitária sobre o setor cultural. O PL, entretanto, foi vetado pelo presidente Jair Bolsonaro em abril deste ano.

Também neste ano, o governo Bolsonaro reduziu pela metade os valores que podem ser captados pela Lei Rouanet – o principal mecanismo de fomento à cultura no Brasil. O pacote de medidas, alvo de críticas do setor cultural, ainda reduziu em 90% o cachê dos artistas, classe profundamente afetada pelas dificuldades impostas pela pandemia.

Com exceção do Enem, que deve se manter mais afastado dessa discussão política, Braga acredita que os problemas enfrentados pelo setor artístico podem ser tratados em outros vestibulares. “É possível que alguma banca trabalhe a falta de incentivo à arte e a ausência de leis que ofereçam suporte para a valorização de projetos culturais”, explica.

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+ Entenda a Lei Paulo Gustavo e mais leis de incentivo à cultura

Preservação do patrimônio

Segundo Braga, desde o incêndio no Museu Nacional, em setembro de 2018, o debate sobre a preservação do patrimônio voltou a ganhar espaço. Apesar disso, o tema ainda não foi trabalhado por nenhuma das principais bancas de vestibulares do país – o que acende um sinal de alerta para o alunos.

O professor acredita que a temática pode ser trabalhada na mesma linha da redação do Enem 2020, que trouxe o tema de saúde mental e pediu que os estudantes tratassem do descaso da sociedade e do governo com o problema. Assim, um possível caminho seria a proposta de texto falar tanto da falta de preocupação com o patrimônio por parte da sociedade como da falta de medidas governamentais de incentivos.

Um bom exemplo para usar na argumentação nesse tema seria, justamente, o Museu Nacional. Na noite do dia 02 de setembro de 2018, o Palácio de São Cristóvão que abrigava grande parte do acervo do Museu, no Rio de Janeiro, foi atingindo por um incêndio de grandes proporções. O desastre fez com que diversos documentos, livros e coleções desaparecessem. Estima-se que 85% do acervo foi destruído. As obras de reconstrução começaram em novembro de 2021, três anos após o ocorrido.

Braga frisa que uma possível comparação, muito recorrente nos últimos anos, é com o incêndio da Catedral de Notre-Dame de Paris, em 2019. Com esforço da França e doações de diversas partes do mundo, nos dez dias após a tragédia o valor para a reconstrução da catedral chegou a 750 milhões de euros (ou cerca de R$ 3,3 bilhões). Já o Museu Nacional, em 2019, um ano após o fogo, arrecadou apenas R$ 316 mil para sua recuperação, como mostra reportagem da BBC Brasil.

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Criminalização da arte popular

Mais uma temática forte, de acordo com o professor, é a criminalização da arte popular, principalmente aquela proveniente de regiões periféricas. Um exemplo é o projeto de criminalização do funk, que o Senado rejeitou em 2017. A proposta defendia que o funk,”difundido inclusive por diversos veículos de comunicação de mídia e internet”, deveria ser considerado “crime de saúde pública à criança, aos adolescentes e à família”.

“O elitismo no Brasil não é só social. Aqui também existe um elitismo cultural. Essa questão pode virar um tema de redação”, observa Braga. Segundo ele, um caminho possível é que a banca peça para o estudante discutir a não hierarquização cultural. Ou seja, tratar como a arte de diferentes grupos e estamentos da sociedade tem o mesmo valor para aquela determinada cultura. “Pode haver uma diferença de abordagem e até técnica, mas em termos de valor é o mesmo para uma produção erudita, popular ou periférica”, completa.

Nessa linha, o vestibulando pode discutir sobre o preconceito histórico que existe com a arte que vem das periferias e dos grupos sociais menos abastados. Um exemplo atual é o funk, já citado, mas existe também o caso do samba e do rap, que também foram criminalizados no passado.

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Braga cita o caso famoso, no Rio de Janeiro, do precursor do samba João da Baiana. Diante da cultura escravagista, presente fortemente na virada do século 19 para o século 20, João teve seu pandeiro apreendido e chegou a ser preso por produzir uma expressão cultural afro-brasileira (o samba).

Semana de Arte Moderna

Braga acredita que este último tema não deve aparecer no Enem, por posicionamentos ideológicos do governo atual, mas seria uma temática interessante para outras bancas, como da Fuvest e Unicamp. A partir do centenário da Semana de Arte Moderna, efeméride importante de 2022, os vestibulares podem propor uma reflexão sobre a necessidade de um pensamento de vanguarda (novas ideias e mentalidades) na sociedade atual, marcada pelo conservadorismo. “É uma sociedade que ainda tem dificuldade de acompanhar o progressismo de outras culturas e que precisa de uma evolução do pensamento nacional sobre diversas questões comportamentais e políticas”, diz o professor.

Para saber mais sobre o assunto:

+ Semana de Arte Moderna: veja como o tema pode cair no vestibular

+ 10 livros para entender a Semana de 22 e o modernismo

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